Por: Alda Almeida
Circular pelas ruas da capital moçambicana tem se tornado, infelizmente, uma experiência olfactiva desagradável. Em esquinas, muros, árvores e zonas de grande circulação, o cheiro forte e inconfundível de urina tornou-se parte do cenário urbano. O que antes poderia ser considerado um caso isolado, hoje parece ter-se normalizado — a olhos e narinas vistos.
Urinar na via pública tornou-se uma prática comum, quase automática. Mas é preciso dizê-lo com clareza: isso não é cultura, é desrespeito. Desrespeito pelo espaço público, por quem transita, por quem vive nas proximidades. É um atentado à dignidade urbana, às crianças, aos trabalhadores, aos turistas e, sobretudo, à imagem de uma cidade que tenta afirmar-se como limpa, habitável e acolhedora.
A ausência de casas de banho públicas é, sem dúvida, parte do problema. Mas a banalização do acto revela algo mais profundo, uma crise de cidadania e de responsabilidade colectiva. Quando o espaço comum é tratado como terreno sem dono, todos perdem.
Mas este não é um problema apenas estético ou moral. A exposição contínua à urina favorece a proliferação de bactérias, contribuindo para ambientes insalubres e o aumento de doenças infecciosas. O espaço público, que deveria ser um lugar de convivência e bem-estar, transforma-se num ambiente hostil, especialmente para os mais vulneráveis.
A solução não é apenas estrutural, é também comportamental. Exige vontade política, empenho social e mudança de mentalidade. Porque urinar na rua não é um gesto inofensivo. É um acto que fere o bem-estar comum, compromete a saúde pública e ataca a dignidade das cidades. Mais do que uma questão de necessidade, é uma escolha. E como toda escolha, pode e deve ser repensada.
Maputo merece mais. Merece políticas públicas eficazes, fiscalização activa e, acima de tudo, uma mudança de mentalidade. Porque respeitar a cidade é respeitar a si mesmo.
Urinar na rua não é cultura é falta de respeito. E é tempo de começarmos a tratá-lo assim.