Violência em Cabo Delgado faz mais 25 mil deslocados internos em Moçambique

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Funcionários do Acnur realizam uma avaliação de necessidades com algumas pessoas que chegam a Namapa, na província de Nampula, após fugirem de ataques de grupos armados não estatais em Cabo Delgado (arquivo)

A Agência das Nações Unidas para Refugiados, Acnur, alertou para a situação da violência no norte de Moçambique, que somente nas últimas semanas, transformou mais de 25 mil pessoas em deslocados internos.

Trabalhadores humanitários afirmam que a capacidade de atender a quem precisa está sendo levada ao limite, uma situação já agravada pelo corte de verbas de auxílio.

Pedras preciosas e gás natural

Uma combinação de desastres naturais consecutivos com vários ciclones, secas e conflito armado já causou quase 1,3 milhão de moçambicanos a terem que fugir de suas casas.

A província de Cabo Delgado, que abriga grandes reservas de gás e outros recursos naturais como pedras preciosas e minerais, não é apenas alvo de interesse de empresas multinacionais, mas também o palco de um conflito armado.

Grupos não estatais têm atacado civis assim como militantes de movimentos islâmicos e terroristas que expulsam moradores da área.

Milhares perderam suas casas, muitos pela segunda ou terceira vez, para encontrar segurança em comunidades próximas.

A província de Niassa, por exemplo, onde o deslocamento havia sido limitado, acolhe agora mais 2 mil pessoas que foram forçadas a fugir desde meados de março.

Pessoas deslocadas de Cabo Delgado recebem assistência alimentar na província de Nampula, Moçambique
© PMA/Denise Colletta

Pessoas deslocadas de Cabo Delgado recebem assistência alimentar na província de Nampula, Moçambique

Três ciclones em três meses

Organizações humanitárias afirmam que estão sob pressão por causa da redução no orçamento de assistência. A nação de língua portuguesa está se recuperando também de meses de protestos e agitação pós-eleitoral.

Ainda em março, o ciclone Jude atingiu a província de Nampula, marcando o terceiro grande ciclone em apenas três meses. Um quadro que agravou as já terríveis necessidades humanitárias. Durante os protestos após as eleições, muitos moçambicanos fugiram para o Malauí para escapar da violência.

A maioria retornou para a casa voluntariamente, mas o país ainda tem 5,2 milhões de pessoas necessitando de assistência humanitária.

Refugiados da RD Congo

O Acnur está preocupado com as necessidades de proteção, incluindo apoio a sobreviventes de violência de gênero, serviços de saúde mental e acesso a documentação civil, que excedem os recursos disponíveis.

Até o momento, a agência só recebeu 32% dos US$ 42,7 milhões necessários.  Moçambique também abriga 25 mil refugiados e requerentes de asilo, principalmente da República Democrática do Congo, RD Congo.

Para a agência da ONU, a crise tripla está alimentando uma outra crise econômica. Os preços dos alimentos, que já estavam altos, dispararam nos últimos meses, frequentemente entre 10% e 20%, enquanto os rendimentos da população de Moçambique continuam a diminuir.

Fonte: ONU