Respostas sobre quem ataca pode mobilizar moçambicanos, diz Mia Couto

0
6
 

“dummyPub”> 

“A minha preocupação é que a opinião pública moçambicana não tenha até agora uma resposta clara sobre a identidade: quem é, de onde vem, portanto, a origem dos rebeldes que atacam a província desde 2017. É óbvio que todos os moçambicanos estão solidários, estão unidos para combater esta agressão e estão solidários com a entrega dos nossos soldados nesse combate”, disse Mia Couto, em entrevista à Lusa.

O escritor apelou mesmo a mais informação sobre o que se passa, para mobilizar os moçambicanos na luta contra esta violência que afeta a província.

“O que me preocupa como cidadão é que não se percebe muito bem o que está a acontecer. Quem está lá, quem são eles, querem o quê, qual é a relação deles com a população, qual é a sua principal via de entrada: a narrativa religiosa, a criação de um estado islâmico, a manutenção de corredores para o tráfico de droga e atuação do crime organizado como já foi falado”, questionou.

“Entendo que estes assuntos obrigam a um rigoroso sigilo, porque se trata de um assunto de segurança nacional. Mas sabemos que a solução profunda e duradoura não é pela via militar. Então, precisamos de envolver mais a sociedade civil no entendimento do que se passa”, acrescentou o escritor, que esta semana lançou em Maputo o projeto “Coleção Gosto de Ler”, iniciativa do Standard Bank em parceria com a Fundação Fernando Leite Couto que visa a distribuição, pelas bibliotecas do país, de 25 mil exemplares de livros de cinco autores, além do próprio também de João Paulo Borges Coelho, Paulina Chiziane, Lília Momplé e Albino Magaia.

Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, no norte do país, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico, com uma nova onda de ataques, sobretudo no distrito de Chiúre, a partir da última semana de julho, que provocou mais de 57.000 deslocados, segundo organizações no terreno.

Para Mia Couto, o Governo deve continuar a apostar na combinação de uma resposta “militar e social”, que inclui políticas que promovam a inclusão, emprego e a esperança de uma vida melhor no seio dos jovens na resposta a este conflito.

“Não creio que se possa separar a resposta militar da intervenção humanitária. Isso para mim seria um erro. Isto é, cada soldado nosso deve ser também um agente humanitário, um promotor do respeito e da solidariedade humana. Soldados que estão no terreno demonstram que são irmãos dos camponeses e que estão ali para dar a vida não apenas por uma causa que é a soberania nacional mas que é, em primeiro lugar, a proteção das vidas e dos bens de pessoas que já tão pouco têm”, defendeu.

“Estou certo de que os nossos soldados sabem que não podem nunca inspirar medo na população. Os únicos que devem sentir medo são os terroristas”, indicou.

Mia Couto nasceu na Beira, em Moçambique, em 1955, tendo sido jornalista e professor, e atualmente biólogo e escritor.

Nas mesmas declarações, o escritor rejeitou associar estes ataques à uma agressão religiosa ou à pobreza vivida naquela região à semelhança do que acontece noutros países, defendendo que se assim fosse já se teria alastrado para outras províncias.

“Trabalhei durante anos em Mocímboa da Praia (…) e para mim era claro que havia uma completa ausência do Estado, estamos a falar de há 15 anos. O Estado estava ausente. A maior parte das pessoas sabiam do mundo porque escutavam a rádio da Tanzânia, a maior parte dos camponeses tinham uma ligação mais próxima da Tanzânia do que com Maputo. Maputo, que para eles é outro país, outro mundo”, disse o escritor.

Apesar do recrudescimento de ataques nas últimas semanas, Mia Couto não aposta na viabilidade de uma negociação com este grupo armado.

“É muito difícil de você negociar quando se desconhece quem é e quais são as intenções desse que nos agride. Aparentemente a base dos terroristas é de natureza religiosa e fundamentalista que não aceita outra autoridade senão a autoridade divina. É claro que essa narrativa é um disfarce de outras intenções bem mais mundanas e de interesses de apropriação de território e de riqueza”, concluiu.

Pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique em 2024, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado em fevereiro pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).

Leia Também:

Fonte: Notícias ao Minuto

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!