Moeda Norte-Americana Estabiliza em Clima de Dúvidas Sobre a Independência da Reserva Federal

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O dólar norte-americano estabilizou esta quinta-feira, mas a confiança dos investidores foi abalada por novos ataques do ex-Presidente Donald Trump à Reserva Federal (Fed), colocando em causa a sua independência. O mercado cambial aguarda agora o discurso de Jerome Powell, em Jackson Hole, que poderá clarificar se haverá cortes de taxas de juro já na reunião da Fed de Setembro.

As tensões políticas em torno da Reserva Federal voltaram a marcar a semana nos mercados internacionais. Donald Trump intensificou a sua ofensiva contra a autoridade monetária, pedindo a demissão da governadora Lisa Cook, alegando irregularidades ligadas a hipotecas em propriedades nos estados da Geórgia e do Michigan. Segundo o Wall Street Journal, Trump terá mesmo considerado a possibilidade de a demitir. Cook rejeitou prontamente a pressão, afirmando “não ter intenção de ser intimidada a abandonar o cargo”.

Apesar da gravidade do episódio, os mercados cambiais reagiram de forma contida. O índice do dólar manteve-se estável em 98,301 pontos, acumulando uma valorização semanal de 0,4%. O euro fixou-se em 1,1646 USD, a libra em 1,3454 USD, próxima de mínimos de uma semana, e o iene negociava a 147,36 por dólar.

Especialistas consideram que, embora as acusações não tenham efeito imediato sobre a política monetária, levantam dúvidas sobre o papel de supervisão e regulação da Fed. “A interferência política percebida pode enfraquecer a independência da Reserva Federal, alterar a curva de rendimentos e reduzir o estatuto do dólar como activo de refúgio”, alertou Kristina Clifton, economista sénior do Commonwealth Bank da Austrália.

As atenções estão agora voltadas para Jackson Hole, onde Jerome Powell deverá pronunciar-se na sexta-feira. O discurso poderá confirmar se a Fed está disposta a cortar as taxas na reunião de 16 e 17 de Setembro, depois de dados de emprego mais fracos em Julho terem alimentado expectativas de afrouxamento monetário. “Os mercados estão convictos de que os últimos dados do mercado de trabalho justificam algum ajuste de política”, comentou Prashant Newnaha, estrategista de taxas da TD Securities.

Entretanto, os mercados accionistas norte-americanos mantiveram o tom de cautela. Na quarta-feira, o Dow Jones fechou praticamente inalterado, o S&P 500 recuou 0,25% e o Nasdaq, mais sensível às tecnológicas, desvalorizou 0,66%. No mercado obrigacionista, as yields mantiveram-se estáveis: 10 anos em 4,291% e 2 anos em 3,749%.

Com o mandato de Jerome Powell a terminar em Maio, cresce a especulação de que Trump, caso regresse ao poder, possa nomear um sucessor mais dovish, alinhado com a sua defesa de cortes agressivos de taxas. A possibilidade de ingerência política sobre o banco central norte-americano permanece, assim, um factor de risco latente para os mercados globais.

Fonte: O Económico

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