Segundo a Polícia da República de Moçambique (PRM), a jovem foi convidada a sair de casa pelo namorado por volta das 22 horas, tendo sido agredida e abandonada a 500 metros da sua casa, no bairro de Zintava, em Marracuene.
“A vítima foi encontrada pela prima, às 4h da manhã, com sinais vitais fracos e indícios de agressão. Foi socorrida e encaminhada ao Hospital Central de Maputo, onde infelizmente perdeu a vida”, revelou Carmínia Leite, porta-voz da PRM na Província de Maputo.
As investigações preliminares apontam que conflitos no relacionamento motivaram o crime. No telefone do acusado, de 21 anos, foram encontrados elementos que indicam premeditação, segundo as autoridades.
No local onde o corpo de Natália foi encontrado, a família achou quatro preservativos usados, facto que reforça a brutalidade do crime.
“Ela saiu a pensar que voltaria para casa. Vimos sinais de luta neste percurso e até onde foi violada encontramos quatro preservativos usados. Agora estou a enterrar a minha filha”, disse Ernesto Macheve, pai da vítima.
Elisa Macheve, mãe de Natália, ainda não consegue aceitar a ausência da filha, que sonhava ser engenheira agrónoma.
“É difícil olhar para o quarto dela e perceber que ela não volta mais. Era o orgulho da casa”, disse a mãe.
A tragédia abalou também a comunidade universitária. Os colegas descrevem Natália como uma jovem sorridente, dedicada e solidária. O vazio na sala de aula em que ela frequentava é agora um lembrete cruel da sua ausência.
“Natália transmitia alegria onde quer que estivesse. O silêncio que ficou no lugar dela dói demais e deixa um vazio”, disse Neusa Bacia, colega de curso.
Em resposta ao crime, a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), onde Natália estudava, repudiou e anunciou que acompanhará o processo judicial. Além disso, o Departamento do Género da instituição pretende desenvolver um estudo científico sobre o feminicídio em Moçambique.
“Não podemos apenas lamentar. Precisamos compreender e combater este fenómeno com base em evidências”, afirmou Gracinda Mataveia, representante do departamento.
A sociedade civil também se fez ouvir. O Observatório das Mulheres voltou a denunciar a impunidade como combustível destes crimes e alertou que, no país, uma mulher morre a cada dois dias, vítima de violência de género.
“Enquanto os agressores não forem exemplarmente punidos, estaremos a permitir que mais Natálias percam a vida”, advertiu Quitéria Guirengane, presidente do observatório.
Neste momento, o processo que investiga a morte de Natália Macheve encontra-se nas mãos das autoridades judiciais.
A esperança da família, colegas e sociedade, em geral, é que este crime não fique impune e sirva como um marco na luta contra o feminicídio em Moçambique.
“Não queremos vingança, queremos justiça, por Natália e por todas as mulheres que já não podem falar por si”, concluiu Francisco Macumbe, colega da vítima.
Fonte: O País