27.1 C
New York
Tuesday, November 4, 2025
InícioNacionalSociedadeGRITO SILENCIOSO DOS CAMPONESES DE NHONGONHANE

GRITO SILENCIOSO DOS CAMPONESES DE NHONGONHANE

Resumo

Em Nhongonhane, distrito de Marracuene, os camponeses enfrentam dificuldades devido às más condições das estradas, que comprometem o escoamento da produção agrícola. Apesar da fertilidade do solo e da dedicação dos agricultores, a falta de infraestruturas adequadas resulta em perdas significativas de alimentos, afetando a qualidade dos produtos e o sustento das famílias. Os camponeses, como Dona Rita e Inácio Magaia, lutam diariamente para levar os seus produtos ao mercado, enfrentando obstáculos que vão desde o transporte precário até à deterioração da mercadoria. A falta de apoio do Ministério da Agricultura e de outras entidades competentes agrava a situação, levando os camponeses a viverem num ciclo de frustração e desmotivação, apesar do seu esforço e esperança por um desenvolvimento rural sustentável.

Por: Lurdes Almeida

Em Nhongonhane, distrito de Marracuene, a terra é fértil, o povo é trabalhador e a esperança renasce a cada estação. Com dedicação e esforço, os camponeses cultivam diversos produtos, contribuindo para a segurança alimentar da região. No entanto, quando chega o momento de escoar essa produção para os mercados, enfrentam um verdadeiro emaranhado de lama, buracos e isolamento que compromete todo o seu trabalho.

O momento da colheita, que deveria ser motivo de celebração, acaba se transformando num verdadeiro pesadelo logístico, isto porque as vias de acesso estão em péssimas condições e frequentemente intransitáveis, sobretudo durante a época chuvosa. Como resultado, toneladas de alimentos se perdem ou chegam ao mercado em estado precário, comprometendo o esforço dos camponeses e a qualidade dos produtos.

Terra fértil, caminhos esquecidos

Apesar da fertilidade do solo e dos bons níveis de produtividade, os  agricultores pedem estradas em boas condições, respeito pelo seu trabalho, que as entidades competentes reconheçam que, sem infraestrutura básica, não é possível garantir um desenvolvimento rural verdadeiramente sustentável.

Os camponeses da região vivem da agricultura familiar, sustentando suas famílias com o suor da enxada e a esperança de dias melhores. No entanto, o que deveria ser uma história de progresso é marcada por abandono e esquecimento.

Dona Rita, de 61 anos, acorda todos os dias às 4h da manhã para cuidar da sua machamba. “Planto couve, feijão, alface, batata-doce e as próprias folhas, mas às vezes não consigo vender nada porque os carros não chegam até aqui,” conta com os olhos marejados.

Cansada da situação, ela suspirou profundamente e desabafou: “Hi pfunani!”, numa mistura de frustração e resignação diante das dificuldades que enfrenta.

Inácio Magaia, camponês com apenas um ano de experiência,  já carrega nas costas o peso de uma luta antiga. Cultiva cenoura, couve e feijão verde, produtos destinados à venda, para garantir o sustento familiar. Mas entre a terra fértil e o mercado consumidor, há um obstáculo que compromete tudo, o transporte.

“Plantamos com esforço, mas o produto estraga-se antes de chegar ao mercado, sem vias de acesso adequadas, recorremos aos “chapas”,  para levar os produtos até o mercado do Zimpeto. O trajecto começa às 1h da madrugada, numa corrida contra o tempo e a deterioração da mercadoria”, conta Inácio.

Acrescentou, lamentando: “As mães saem de madrugada, carregadas, para tentar chegar até às 5h. Mas, muitas vezes, não conseguimos vender porque a qualidade já não está boa”.

Sem estradas transitáveis, os produtos são expostos ao calor, à poeira e ao manuseio inadequado. O resultado são perdas constantes, frustração e desmotivação. A história do senhor Ibrahimo é apenas uma entre muitas.

“Se houvesse um verdadeiro incentivo por parte do Ministério da Agricultura e dos órgãos afins, se procurassem entender as dificuldades dos camponeses, talvez estivéssemos melhor. Precisamos de apoio concreto, como tractores com alfaias e  motobomba para irrigação. Perco muitos produtos por não conseguir regar, e isso dói”, disse-nos.

Num tom de desabafo, o camponês revela a dura realidade enfrentada por quem tenta vender sua produção no mercado do Zimpeto.

“No mercado do Zimpeto, não és tu quem vende o teu produto. Eles mandam: “Encosta aqui”, e quem não obedece sofre represálias. Por isso, arranjei uma esquina por minha conta e vendo por lá. Também, uso as redes sociais, cansei de ilusões. Não estou aqui para condenar ninguém, apenas para desabafar”.

Produzir não é suficiente, especialmente, nas zonas rurais, onde milhares de famílias dependem da terra para viver. Mas sem vias de acesso, o produto não chega ao consumidor, o rendimento não chega ao produtor e o desenvolvimento não chega à comunidade. É um ciclo que perpetua a pobreza e desvaloriza o trabalho rural.

Melhorar as estradas de Nhongonhane é  uma questão de inclusão social, de integração do agricultor à economia, oferecer-lhe perspectivas de futuro no campo e garantir que o alimento chegue à mesa com dignidade.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!

- Advertisment -spot_img

Últimas Postagens

A cidade de Maputo Debate a Criação do BDM

0
O encontro marcou mais uma etapa do processo de consulta pública sobre o modelo e as funções que o futuro banco deverá desempenhar na...
- Advertisment -spot_img