Resumo
Em Nhongonhane, distrito de Marracuene, os camponeses enfrentam dificuldades devido às más condições das estradas, que comprometem o escoamento da produção agrícola. Apesar da fertilidade do solo e da dedicação dos agricultores, a falta de infraestruturas adequadas resulta em perdas significativas de alimentos, afetando a qualidade dos produtos e o sustento das famílias. Os camponeses, como Dona Rita e Inácio Magaia, lutam diariamente para levar os seus produtos ao mercado, enfrentando obstáculos que vão desde o transporte precário até à deterioração da mercadoria. A falta de apoio do Ministério da Agricultura e de outras entidades competentes agrava a situação, levando os camponeses a viverem num ciclo de frustração e desmotivação, apesar do seu esforço e esperança por um desenvolvimento rural sustentável.
Em Nhongonhane, distrito de Marracuene, a terra é fértil, o povo é trabalhador e a esperança renasce a cada estação. Com dedicação e esforço, os camponeses cultivam diversos produtos, contribuindo para a segurança alimentar da região. No entanto, quando chega o momento de escoar essa produção para os mercados, enfrentam um verdadeiro emaranhado de lama, buracos e isolamento que compromete todo o seu trabalho.
O momento da colheita, que deveria ser motivo de celebração, acaba se transformando num verdadeiro pesadelo logístico, isto porque as vias de acesso estão em péssimas condições e frequentemente intransitáveis, sobretudo durante a época chuvosa. Como resultado, toneladas de alimentos se perdem ou chegam ao mercado em estado precário, comprometendo o esforço dos camponeses e a qualidade dos produtos.
Terra fértil, caminhos esquecidos
Apesar da fertilidade do solo e dos bons níveis de produtividade, os agricultores pedem estradas em boas condições, respeito pelo seu trabalho, que as entidades competentes reconheçam que, sem infraestrutura básica, não é possível garantir um desenvolvimento rural verdadeiramente sustentável.
Os camponeses da região vivem da agricultura familiar, sustentando suas famílias com o suor da enxada e a esperança de dias melhores. No entanto, o que deveria ser uma história de progresso é marcada por abandono e esquecimento.
Dona Rita, de 61 anos, acorda todos os dias às 4h da manhã para cuidar da sua machamba. “Planto couve, feijão, alface, batata-doce e as próprias folhas, mas às vezes não consigo vender nada porque os carros não chegam até aqui,” conta com os olhos marejados.
Cansada da situação, ela suspirou profundamente e desabafou: “Hi pfunani!”, numa mistura de frustração e resignação diante das dificuldades que enfrenta.
Inácio Magaia, camponês com apenas um ano de experiência, já carrega nas costas o peso de uma luta antiga. Cultiva cenoura, couve e feijão verde, produtos destinados à venda, para garantir o sustento familiar. Mas entre a terra fértil e o mercado consumidor, há um obstáculo que compromete tudo, o transporte.
“Plantamos com esforço, mas o produto estraga-se antes de chegar ao mercado, sem vias de acesso adequadas, recorremos aos “chapas”, para levar os produtos até o mercado do Zimpeto. O trajecto começa às 1h da madrugada, numa corrida contra o tempo e a deterioração da mercadoria”, conta Inácio.
Acrescentou, lamentando: “As mães saem de madrugada, carregadas, para tentar chegar até às 5h. Mas, muitas vezes, não conseguimos vender porque a qualidade já não está boa”.
Sem estradas transitáveis, os produtos são expostos ao calor, à poeira e ao manuseio inadequado. O resultado são perdas constantes, frustração e desmotivação. A história do senhor Ibrahimo é apenas uma entre muitas.
“Se houvesse um verdadeiro incentivo por parte do Ministério da Agricultura e dos órgãos afins, se procurassem entender as dificuldades dos camponeses, talvez estivéssemos melhor. Precisamos de apoio concreto, como tractores com alfaias e motobomba para irrigação. Perco muitos produtos por não conseguir regar, e isso dói”, disse-nos.
Num tom de desabafo, o camponês revela a dura realidade enfrentada por quem tenta vender sua produção no mercado do Zimpeto.
“No mercado do Zimpeto, não és tu quem vende o teu produto. Eles mandam: “Encosta aqui”, e quem não obedece sofre represálias. Por isso, arranjei uma esquina por minha conta e vendo por lá. Também, uso as redes sociais, cansei de ilusões. Não estou aqui para condenar ninguém, apenas para desabafar”.
Produzir não é suficiente, especialmente, nas zonas rurais, onde milhares de famílias dependem da terra para viver. Mas sem vias de acesso, o produto não chega ao consumidor, o rendimento não chega ao produtor e o desenvolvimento não chega à comunidade. É um ciclo que perpetua a pobreza e desvaloriza o trabalho rural.
Melhorar as estradas de Nhongonhane é uma questão de inclusão social, de integração do agricultor à economia, oferecer-lhe perspectivas de futuro no campo e garantir que o alimento chegue à mesa com dignidade.





