Resumo
O Zimbabué está a tentar desdolarizar a sua economia até 2030, introduzindo o ZiG como moeda nacional. Este processo complexo enfrenta desafios, como a falta de credibilidade devido ao histórico de hiperinflação e preferência pelo dólar. A transição gradual visa evitar tensões inflacionistas, permitindo contas em moeda estrangeira e protegendo ativos em dólares. A moeda dependerá da estabilidade fiscal, emissão controlada e gestão cambial previsível para evitar pressões inflacionistas. A nível regional, a mudança terá impacto em Moçambique, facilitando transações e integração económica se a moeda zimbabueana for credível, mas instabilidade pode causar efeitos negativos, como pressão nos fluxos comerciais e fuga de capitais. A transição será um teste para a capacidade do Zimbabué em lidar com estes desafios.
A tentativa do Zimbabué de restaurar uma moeda nacional funcional até 2030 representa um dos processos monetários mais complexos da África Austral. A introdução do ZiG como instrumento central exige robustez cambial, estabilidade institucional e disciplina macroeconómica — factores historicamente frágeis no país.
O primeiro grande risco é o da credibilidade. O histórico de hiperinflação e perda de poupanças continua a influenciar o comportamento das empresas e dos consumidores, que mantêm forte preferência pelo dólar como reserva de valor. Uma retirada demasiado rápida do dólar poderia reactivar tensões inflacionistas. Por essa razão, Harare adoptou uma abordagem gradualista, permitindo contas em moeda estrangeira e garantindo que activos denominados em dólares não serão convertidos coercivamente.
O segundo risco reside na volatilidade dos preços do ouro. O ZiG está ancorado nos activos auríferos do país, cujo valor tem sido excepcionalmente elevado nos últimos anos. Uma eventual correcção internacional no mercado do ouro pode fragilizar a moeda, reduzir reservas e abalar a confiança.
O terceiro risco relaciona-se com a dinâmica fiscal. A sustentabilidade da moeda depende de disciplina orçamental, contenção da emissão monetária e gestão previsível da política cambial. Qualquer desvio poderá desencadear pressões inflacionistas.
No plano regional, a evolução zimbabueana terá impacto directo. Para Moçambique, país com fortes ligações comerciais à zona fronteiriça, uma moeda zimbabueana credível poderia facilitar transacções transfronteiriças, reduzir utilização não oficial do dólar e reforçar a integração económica. Por outro lado, uma eventual instabilidade monetária no Zimbabué pode gerar efeitos de contágio, incluindo pressão sobre fluxos de bens, procura de dólares e fuga informal de capitais, sobretudo nas províncias de Manica e Tete.
A transição zimbabueana será, assim, um teste à capacidade de gestão monetária em economias africanas altamente dolarizadas. O êxito dependerá da forma como o país equilibra confiança, reservas, estabilidade fiscal e comportamento dos mercados. A região observa com atenção, consciente de que a evolução do ZiG poderá moldar parte da arquitectura financeira da África Austral nos próximos anos.
Fonte: O Económico






