Resumo
A consultora ambiental Dorcas Uaciquete destaca a necessidade de uma abordagem científica e integrada para lidar com os problemas de poluição na indústria mineira em Moçambique, exemplificada pelo caso de Manica. Ela salienta que a falta de um diagnóstico técnico rigoroso é um dos principais obstáculos, levando a soluções inadequadas que podem agravar a situação. Uaciquete enfatiza a importância de caracterizar os tipos de poluição, suas origens e impactos reais para implementar medidas eficazes e sustentáveis. Além disso, destaca a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para lidar com os impactos ambientais da mineração, sublinhando que este é um problema estrutural que requer uma resposta transformacional.
Ciência, Economia Circular e Práticas ESG Como Vetores Para Reposicionar A Indústria Mineira Moçambicana
Os recentes episódios de poluição associados à actividade mineira em Moçambique, com particular destaque para o caso de Manica, trouxeram para o centro do debate nacional uma questão estrutural frequentemente tratada de forma reactiva: como compatibilizar a exploração mineira com a sustentabilidade ambiental e a viabilidade económica do sector.
Para Dorcas Uaciquete, Consultora Ambiental e de Engenharia e co-fundadora da VerdCo – Engenharia e Sustentabilidade Ambiental, estes episódios não devem ser analisados como excepções, mas como sinais claros da necessidade de uma abordagem mais científica, integrada e transformacional.
Um Problema Estrutural, Não Um Caso Isolado
Segundo Dorcas Uaciquete, em entrevista ao “Semanário Económico” “o caso de Manica é apenas o mais visível e o que teve maior repercussão mediática, mas existem vários outros casos ao longo do País ligados à actividade mineira”.
Num território com mineração disseminada, os impactos ambientais tendem a repetir-se, ainda que com intensidades distintas.
A especialista sublinha que estes fenómenos não são exclusivos de países em desenvolvimento, lembrando que “até países do primeiro mundo enfrentam os mesmos desafios; a diferença está na forma como lidam com a remediação”.
Caracterizar Antes De Resolver
Um dos principais constrangimentos identificados na abordagem nacional reside na ausência de diagnóstico técnico rigoroso. Para Dorcas Uaciquete, “poluição é uma palavra muito genérica; tudo pode causar poluição, mas é fundamental saber que tipo de poluição temos, qual a sua origem e quais os impactos reais”.
Sem essa caracterização, alerta, “acabamos por aplicar soluções inadequadas, que podem criar ainda mais problemas e tornar-se insustentáveis”.
Ciência E Abordagem Multidisciplinar
A entrevistada defende que a resposta aos impactos ambientais da mineração exige uma abordagem integrada. “Não é um problema que um geólogo sozinho vá resolver. É preciso integrar especialistas em água, hidrogeologia, engenharia civil, agricultura e saúde pública”, explica.
Neste processo, a academia assume um papel central. “A comunidade científica deve ser parte integral da solução. Sem estudos e investigação aplicada, dificilmente encontraremos respostas adequadas”, afirma.
Economia Circular: Transformar O Problema Em Valor
Dorcas Uaciquete sublina a centralidade do conceito de economia circular, definidondo como chave para transformar passivos ambientais em oportunidades económicas. “Depois de identificar o problema, é preciso encontrar soluções simples, economicamente sustentáveis e baseadas em recursos locais”, defende.
A especialista exemplifica com a drenagem ácida de minas, um problema comum na actividade mineira. “É possível remediar utilizando rochas existentes na região, como o basalto, que absorve metais pesados e ainda permite captar dióxido de carbono”, explica, acrescentando que os resíduos podem ser reaproveitados na agricultura ou em infra-estruturas.
Sustentabilidade Como Vantagem Competitiva
A adopção de práticas ESG é vista como determinante para o futuro do sector. “Hoje, muitos compradores e investidores exigem garantias de que os minerais são explorados de forma limpa e sustentável”, alerta Dorcas Uaciquete.
Na sua leitura, “se Moçambique não seguir estes padrões, corre o risco de perder mercados e investimento estrangeiro directo”, comprometendo a competitividade de um sector central para o crescimento económico do País.
Fragilidade Institucional E Colaboração
Reconhecendo as fragilidades institucionais, a entrevistada defende um modelo colaborativo. “O roadmap começa com a colaboração entre o Governo, o sector privado e a academia”, sublinha.
Neste contexto, o conteúdo local deve ser repensado. “Não pode limitar-se a catering e segurança. Pode incluir startups, consultores ambientais e cientistas locais, integrando inovação, ciência e tecnologia”, defende.
Revisão Legal E Antecipação Dos Impactos
O processo de revisão da Lei de Minas surge como uma oportunidade estratégica. “Temos de parar de pensar que vamos resolver o problema depois de ele acontecer”, afirma Dorcas Uaciquete, defendendo a integração da remediação ambiental desde a concepção dos projectos.
Para a especialista, “antecipar os impactos é muito mais eficaz e menos oneroso do que tentar corrigi-los depois”.
Sustentabilidade E Crescimento Económico
Na leitura final, Dorcas Uaciquete considera que “aquilo que hoje parece um problema é, na verdade, uma oportunidade”.
Com soluções adequadas, “a poluição associada à mineração pode gerar valor económico para vários sectores e reforçar a sustentabilidade do modelo de crescimento”.
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p style="margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial">Num contexto global cada vez mais exigente, a entrevistada conclui que sustentabilidade ambiental e competitividade económica são hoje dimensões indissociáveis.
Fonte: O Económico






