Por: Alda Banze
Dizem que, em Moçambique, o segredo para subir na vida já não passa necessariamente por saber mais ou fazer melhor. Hoje, muitos afirmam que, para ter sucesso, é preciso antes de tudo ter as “costas quentes”, alguém lá no topo, pronto a abrir a porta. O mérito? Parece que vai ficando para trás, como aquele livro esquecido numa estante empoeirada.
A verdade, é que sendo verdade, há uma geração a crescer com a ideia de que o esforço pouco vale. Que mais conta saber quem está sentado na cadeira do lado certo. E assim, aos poucos, vamos trocando o valor da competência pela habilidade de agradar. É o nascimento silencioso dos “especialistas em bajular”, aqueles que elogiam até o silêncio do chefe, mesmo sem entender o que se passa na sala.
Têm se dito que já se tornou piada de rua a seguinte frase: “Se queres emprego, arranja um tio no topo.” Triste é saber que há quem leve isso a sério. Porque em muitos concursos, dizem, já têm dono antes mesmo de sair. Os nomes circulam, os cargos já estão ocupados, e o resto é para manter as aparências. E os outros? Aqueles que estudaram com sacrifício, que venderam, trabalharam à noite para pagar propinas? Será que merecem ficar na fila, só a ver o comboio passar?
A bajulação parece ter se tornado um atalho. Um caminho fácil para quem prefere agradar do que trabalhar. Mas esse atalho é perigoso. Porque estaríamos a construir uma sociedade onde vale mais dizer o que agrada do que fazer o que é certo. Uma sociedade onde a inteligência se cala, e o saber é colocado em espera. Onde o mérito virou miragem e quem tenta vencê-lo pelo esforço acaba com rótulos como “não recomendado” ou infelizmente a vaga já foi ocupada.
Mas será que é este o país que queremos deixar? Um Moçambique onde o talento é ignorado e a dignidade trocada por conveniência? Ou podemos, juntos, reconstruir a ideia de que o verdadeiro sucesso é o que vem do trabalho honesto, da competência genuína e da integridade?
A mudança começa em pequenas coisas. Na escola, no trabalho em casa e em qualquer lugar. Se queremos um Moçambique melhor, temos de voltar a acreditar no mérito. Não como luxo, mas como regra. E resgatar aquela velha máxima que, apesar do tempo, continua certa: “Deus ajuda quem cedo madruga.”
Porque só quando valorizarmos quem luta com dignidade, quem constrói com o saber e com as mãos é que poderemos dizer, com orgulho, que estamos a erguer um país verdadeiramente nosso. Onde não é preciso bajular para subir, basta merecer.