Resumo
Líderes da OPEP, API e indústria global de energia declaram o fim da "transição energética clássica" em Abu Dhabi, defendendo um modelo de coexistência entre hidrocarbonetos e renováveis para satisfazer a crescente procura mundial. Na ADIPEC 2025, surge a "era da adição energética", propondo expandir todas as fontes de energia para suprir a procura acelerada. A mudança semântica de "transição" para "adição" reflete a necessidade de realismo e inclusão na oferta energética global. O realismo energético é destacado como novo paradigma, equilibrando urgência climática com necessidades económicas e sociais. A inteligência artificial é apontada como impulsionadora da procura energética, com previsões de aumento exponencial no consumo de energia por data centers até 2030.
Em Abu Dhabi, líderes da OPEP, da API e da indústria global de energia proclamam o fim da “transição energética clássica” e defendem um modelo de coexistência entre hidrocarbonetos e renováveis para responder ao aumento exponencial da procura mundial.
A narrativa dominante da política energética global está a mudar.
Em Abu Dhabi, na ADIPEC 2025, os principais líderes da indústria do petróleo e gás rejeitaram o conceito de “transição energética clássica”, proclamando o início da “era da adição energética” — uma abordagem que propõe expandir todas as fontes de energia, fósseis e limpas, para satisfazer uma procura mundial em rápida aceleração.
De Transição a Adição: A Viragem Semântica de Abu Dhabi
A ADIPEC 2025, uma das maiores conferências de energia do mundo, marcou o nascimento de um novo paradigma discursivo: não se trata mais de substituir, mas de adicionar.
O termo “transição”, antes símbolo de compromisso ambiental, cede lugar à “adição”, expressão que reflecte a crescente percepção de que a procura global de energia não pode ser suprida apenas por fontes renováveis num horizonte previsível.
“O mundo está a crescer, e a energia que alimenta esse crescimento precisa de ser realista e inclusiva. A era da exclusão energética acabou”, afirmou Haitham Al Ghais, Secretário-Geral da OPEP.
A mudança semântica traduz também uma mudança política, na qual os produtores procuram legitimar a continuidade dos hidrocarbonetos como parte essencial da segurança energética global.
OPEC e API: Realismo Energético Como Novo Paradigma
Na mesma linha, o Presidente da COP28 e CEO da ADNOC, Sultan Al-Jaber, defendeu que “a única transição viável é a que assegura energia para todos, em todas as formas possíveis”.
A sua intervenção reforçou a ideia de um “realismo energético”, em que a urgência climática é equilibrada com a necessidade económica e social.
“Não é tempo de ilusões. É tempo de soluções práticas e realistas. O mundo precisa de mais energia, não de menos”, declarou Al-Jaber.
O American Petroleum Institute (API), representado pelo seu CEO Mike Sommers, acrescentou que “o petróleo e o gás continuarão a ser indispensáveis para o funcionamento da economia global”, apelando a uma política energética pragmática e não ideológica.
Estas posições refletem o reposicionamento estratégico dos produtores de energia, que pretendem liderar o diálogo sobre o futuro da transição, em vez de serem meros alvos das pressões ambientais internacionais.
A Inteligência Artificial Como Motor da Nova Procura
Um dos factores centrais nesta viragem é a explosão da procura energética impulsionada pela inteligência artificial.
Segundo estimativas divulgadas durante a ADIPEC, a IA e a computação avançada poderão multiplicar por quatro o consumo de energia dos data centers até 2030, pressionando redes eléctricas e exigindo novas fontes de abastecimento.
“Cada clique de IA consome energia. A revolução digital é também uma revolução energética”, observou Sultan Al-Jaber, sublinhando que a adopção tecnológica global está a acelerar mais depressa do que a capacidade de geração limpa.
O conceito de “adição energética”, neste contexto, surge como resposta à crescente divergência entre ambição climática e realidade de consumo.
Entre Ambição Climática e Pragmatismo Económico
Embora a “adição energética” seja vista como um discurso de moderação estratégica, críticos alertam que ela pode enfraquecer o impulso da descarbonização.
Organizações ambientais consideram que o novo termo é uma reformulação política do statu quo, usada para justificar o prolongamento do investimento em combustíveis fósseis.
Por outro lado, economistas do sector energético defendem que o realismo pragmático é inevitável: a procura global de energia aumentará 25% até 2045, e os combustíveis fósseis ainda representarão mais de 50% do consumo total.
O dilema, portanto, não está apenas entre fósseis e renováveis, mas entre crescimento económico e sustentabilidade — um equilíbrio que cada país tentará alcançar à sua própria escala.
O Desafio: Reforço ou Substituição Energética?
A nova narrativa global questiona o próprio conceito de transição.
Enquanto uns defendem que a “adição” permite inclusão e segurança energética, outros receiam que adiar a substituição dos combustíveis fósseis possa comprometer as metas climáticas de 2050.
“Precisamos de mais energia e de menos emissões — ambas as coisas ao mesmo tempo”, sintetizou Haitham Al Ghais.
No centro desta tensão, a era da adição energética inaugura um ciclo em que a competição entre fontes dá lugar à coexistência, e em que o pragmatismo energético substitui o idealismo climático.
Um Novo Léxico Para a Política Global da Energia
Mais do que um slogan, “adição energética” é a tentativa de redefinir a narrativa global da energia.
Reflecte o esforço dos produtores para reposicionar o petróleo e o gás como parte da solução, e não como inimigos do clima.
Mas também expõe uma realidade incómoda: a transição verde, nos moldes actuais, não está a acompanhar o ritmo da procura mundial.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>A conferência de Abu Dhabi deixou claro que o debate energético global entra numa nova fase, em que a segurança energética volta ao centro das decisões e o discurso sobre a neutralidade carbónica se torna mais pragmático, gradual e politicamente realista.
Fonte: O Económico





