A venda de monografias: um atalho perigoso no caminho da formação

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Foto: UCM

Por: Alda Almeida

Nos últimos anos, o ensino superior tornou-se mais acessível. O acesso alargado ao ensino superior representa, em si, uma conquista importante. Mas o verdadeiro teste começa quando o curso se aproxima do fim, e cada estudante é chamado a demonstrar, através da defesa da monografia, aquilo que aprendeu ao longo dos anos. É aqui que se levanta um paradoxo inquietante: a monografia, que, parece ter se tornado, em muitos casos, um simples produto de mercado. E como qualquer produto, basta ter dinheiro para o adquirir.

Uma investigação feita pelo jornal O País revelou a existência de um esquema organizado de venda de monografias em várias instituições de ensino superior em Moçambique. Os preços variam entre 12 mil e 50 mil meticais, dependendo do curso e da complexidade do trabalho. O serviço é completo: incluindo, desde a escolha ou reformulação do tema até à formatação final, com direito a introdução, desenvolvimento, conclusão, bibliografia e até possíveis correcções solicitadas pelos orientadores. Ou seja, o estudante apenas paga e o resto é feito por outros.

Este fenómeno tem-se expandido nos últimos anos. Segundo relatos de estudantes e docentes, há quem recorra a este tipo de serviço por falta de tempo ou motivação, optando por pagar para que terceiros elaborem o trabalho. Em muitos casos, os compradores limitam-se a ler o documento dias antes da defesa, memorizando algumas ideias para apresentarem-se como autores de algo que não produziram.

Poucos compreendem, mas comprar uma monografia é como usar um fato à medida… dos outros. Pode até cair bem no espelho, mas na hora de falar sobre o corte e o tecido, não há improviso que salve. O conhecimento, ao contrário de um bom disfarce, não se finge, nota-se logo quando falta. Ainda assim, muitos dizem: “Para quê sofrer se tenho dinheiro” E seguem em frente, como quem compra um bolo pronto e leva para casa dizendo que foi ao forno.

Apesar de, este acto ser amplamente reconhecido como uma ameaça grave à integridade académica, a legislação moçambicana não dispõe de uma norma específica que proíba directamente a compra e venda de monografias. Ainda assim, a prática pode enquadrar-se como violação da Lei do Direito de Autor (Lei n.º 4/2001), uma vez que se trata de apropriação indevida de autoria intelectual. Além disso, os regulamentos internos das universidades exigem declarações de autenticidade e permitem a aplicação de sanções disciplinares severas, incluindo a anulação da defesa ou a retirada do diploma. No entanto, a ausência de uma lei clara deixa espaço para que o fenómeno continue a prosperar, cabendo às instituições e aos próprios estudantes assumir a responsabilidade pela preservação da credibilidade académica.

O atalho até pode parecer mais curto, mas, como em todas as estradas apressadas, há buracos que só se vêem tarde demais. O diploma até pode ser o destino, mas o que realmente conta é a bagagem que levas do caminho.

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