O acesso à energia é um desafio crítico em África, onde quase 600 milhões de pessoas ainda vivem sem electricidade, enfrentando uma realidade marcada por soluções precárias e dispendiosas, como o uso de geradores a diesel e lâmpadas a querosene. Segundo Wale Shonibare, Director de Soluções Financeiras, Política e Regulamentação de Energia do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), a falta de energia sustentável e confiável impede o desenvolvimento económico, restringe o acesso a serviços básicos como saúde e educação, e perpetua ciclos de pobreza.
Este desafio ganha relevância com a proximidade da Cimeira de Energia em África, a realizar-se em Dar es Salaam, Tanzânia, nos dias 27 e 28 de Janeiro de 2025. A cimeira reunirá chefes de Estado, líderes do sector privado e especialistas em energia para discutir estratégias e compromissos destinados a alcançar o acesso universal à energia no continente.
Missão 300: Electrificação para 300 milhões até 2030
Uma das principais iniciativas em destaque é a “Missão 300”, liderada pelo Banco Africano de Desenvolvimento e parceiros como o Banco Mundial. Este projecto ambicioso visa fornecer electricidade a 300 milhões de africanos até 2030, utilizando uma abordagem que combina extensões de redes eléctricas com soluções de energia renovável distribuída, como mini-redes e sistemas solares residenciais.
“Esta iniciativa não é apenas sobre números; trata-se de transformar vidas, revitalizar economias e fortalecer comunidades”, afirmou Shonibare.
Além disso, a iniciativa prevê investimentos significativos na geração, transmissão e interconexão regional de energia, bem como em reformas do sector para garantir que o fornecimento seja sustentável e acessível a longo prazo.
Barreiras e soluções estruturais
O sector energético africano enfrenta uma série de desafios estruturais que dificultam a expansão do acesso à energia. Entre os principais entraves estão:
A Missão 300 aborda esses problemas ao propor reformas que tornem o sector mais eficiente e resiliente. Entre as recomendações estão processos de licitação mais transparentes, a promoção do comércio regional de electricidade e a integração de energias renováveis em redes fracas.
O papel crucial das parcerias
Para o sucesso da Missão 300, a colaboração entre governos, sector privado e organizações internacionais é essencial. O sector privado, em particular, desempenha um papel central na expansão do acesso à energia renovável, especialmente em soluções descentralizadas.
Shonibare também destacou a importância de instrumentos financeiros inovadores e assistência técnica para mobilizar capital privado e acelerar o desenvolvimento de infra-estruturas. O recém-lançado Fundo Acelerador de Instalações Técnicas é um exemplo promissor, fornecendo suporte técnico a governos para optimizar a execução de projectos energéticos.
A cimeira de Dar es Salaam: Um momento decisivo
A Cimeira de Energia em África será uma plataforma crucial para discutir compromissos nacionais e regionais. Durante o evento, vários governos apresentarão pactos energéticos delineando estratégias para reformas e metas de curto prazo. Além disso, serão anunciados novos investimentos e iniciativas para acelerar a implementação de infra-estruturas de energia verde.
A cimeira também abordará a mobilização de recursos domésticos para complementar o apoio internacional, garantindo que os países africanos assumam um papel activo na transição energética.
A hora de agir é agora
Com os avanços tecnológicos e modelos de financiamento inovadores, este é o momento ideal para enfrentar os desafios energéticos em África. O acesso à energia não é apenas uma questão técnica, mas um imperativo moral.
A Missão 300 representa mais do que uma meta ambiciosa; é uma oportunidade para transformar o cenário energético africano e criar um futuro próspero para milhões de pessoas.
“Alcançar o acesso universal à energia significa iluminar lares, impulsionar negócios e promover o progresso em saúde, educação e igualdade de género. É um passo fundamental para garantir que a pobreza se torne uma relíquia do passado”, concluiu Shonibare.
Fonte: O Económico