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A África do Sul está a intensificar os seus esforços para diversificar os mercados de exportação no continente africano, como resposta à imposição de tarifas punitivas por parte dos Estados Unidos, que ameaçam travar o crescimento económico e agravar o desemprego no país.
O Presidente Cyril Ramaphosa anunciou, na sua newsletter semanal de 4 de Agosto, que o país irá intensificar missões comerciais noutras geografias africanas e além-fronteiras. A aposta visa compensar os danos provocados pelas tarifas de 30% impostas por Washington sobre os produtos sul-africanos — as mais elevadas da África Subsaariana.
“O governo também impulsionará o Programa Nacional de Desenvolvimento de Exportadores, que visa aumentar o número de empresas preparadas para exportar”, declarou o chefe de Estado, reforçando que todos os canais de diálogo com os Estados Unidos “permanecem abertos”.
A decisão norte-americana foi anunciada pelo presidente Donald Trump no dia 31 de Agosto e faz parte de um plano global revisto de política comercial. Os impactos não se fizeram esperar: a Jendamark Automation, uma empresa de Gqeberha que fabrica máquinas e software para a indústria automóvel, perdeu contratos no valor de 750 milhões de rands (cerca de 42 milhões de dólares), revelou o seu Director-geral, Siegfried Lokotsch, ao City Press.
O governador do Banco Central da África do Sul, Lesetja Kganyago, alertou que estas tarifas podem colocar em risco mais de 100 mil empregos, especialmente nos sectores automóvel e agrícola — pilares importantes da economia sul-africana, já fragilizada por um dos mais altos índices de desemprego do mundo.
De acordo com dados da agência tributária, os EUA são o segundo maior destino das exportações sul-africanas, logo a seguir à China, tendo absorvido 8,8 mil milhões de dólares em bens no último ano.
O sector agrícola será um dos mais atingidos. O principal lobby da agricultura sul-africana alertou que a nova tarifa coincide com a época de colheita de citrinos, colocando em risco uma indústria avaliada em 35 mil milhões de rands. “A diversificação não deve ser vista como um substituto para os EUA, mas como parte do foco de longa data na expansão das exportações”, advertiu Wandile Sihlobo, economista-chefe da Câmara de Negócios Agrícolas da África do Sul.
Apesar da retórica de resiliência e da aposta na integração africana, os analistas lembram que encontrar novos mercados será um processo demorado e dispendioso — uma dificuldade adicional num cenário de fraco crescimento e elevada vulnerabilidade económica.
Fonte: O Económico