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A Agência Internacional de Energia (AIE) reviu em baixa, no seu relatório de Abril, a previsão de crescimento da procura global de petróleo para 2025, apontando agora para um acréscimo de 730 mil barris por dia (kb/d) — menos 300 kb/d face ao mês anterior — devido ao agravamento das tensões comerciais e ao arrefecimento da actividade económica global. A tendência deverá manter-se em 2026, com crescimento estimado em 690 kb/d.
Depois de um início de ano robusto, com a procura a crescer 1,2 milhões de barris/dia (mb/d) no primeiro trimestre — o maior ritmo desde 2023 —, os mercados de petróleo foram recentemente abalados por uma vaga de tarifas comerciais anunciadas pelos Estados Unidos. O choque levou a uma queda abrupta dos preços do crude, com o Brent a cair para menos de 60 dólares por barril, recuperando ligeiramente para os 65 dólares após o adiamento parcial de algumas medidas.
A pressão sobre os preços agravou-se com o anúncio de que oito países da OPEP+, anteriormente comprometidos com cortes voluntários, iriam aumentar a produção conjunta em 411 kb/d a partir de Maio. Contudo, a AIE alerta que o aumento efectivo poderá ser mais modesto, devido ao excesso de produção já registado em países como o Cazaquistão, que em Março produziu 1,8 mb/d — cerca de 390 kb/d acima da sua quota.
A oferta global cresceu 590 kb/d em Março, atingindo os 103,6 mb/d, com as economias fora da OPEP+ a liderar os ganhos. A previsão de crescimento da oferta para 2025 foi, no entanto, revista em baixa para 1,2 mb/d, penalizada pela redução da produção nos EUA e na Venezuela. A produção dos EUA foi revista para 490 kb/d, com as empresas a apontarem a necessidade de preços acima de 65 dólares para manter a viabilidade dos novos poços, segundo o inquérito da Dallas Fed.
Os inventários globais subiram 21,9 milhões de barris em Fevereiro, atingindo 7.647 mb, mas mantêm-se perto do limite inferior da média dos últimos cinco anos. O crescimento foi liderado pelo aumento de crude e líquidos de gás natural (NGLs), enquanto os produtos refinados registaram uma queda significativa.
As margens de refinação registaram desempenho misto: caíram na Bacia do Atlântico, mas subiram em Singapura, impulsionadas pela valorização do crude ácido. As destiladas médias apresentaram quebra na rentabilidade, afectando os lucros do sector.
Para 2026, a AIE antecipa uma menor procura, com o crescimento a desacelerar para 690 kb/d, num cenário de maior penetração dos veículos eléctricos e fragilidade macroeconómica. A oferta não-OPEP+ deverá continuar a crescer, estimando-se um acréscimo de 920 kb/d, com destaque para Brasil (+240 kb/d), Guiana (+160 kb/d) e Canadá (+120 kb/d), enquanto os EUA deverão contribuir com apenas 280 kb/d.
A AIE adverte que o contexto geopolítico e económico volátil poderá alterar radicalmente estas previsões, sobretudo tendo em conta as incertezas em torno das negociações comerciais e potenciais novos estímulos fiscais em países-chave como a China e os EUA.
Fonte: O Económico