Na nota da exposição, assinada por Álvaro Fausto Taruma, lê-se que em “A viagem do olhar”, Mahumana propõe-nos uma travessia que não é apenas espacial, mas profundamente humana. “As suas imagens exigem um olhar paciente, um olhar que não se satisfaz com a superfície das cores vivas e das formas em movimento”, descreve Taruma, acrescentando que nas pinturas de Mahumana, “há um elemento que se impõe: o peso”.
“As personagens carregam filhos, bilhas, mercadorias, memórias e, muitas vezes, o próprio mundo. Mas há um outro peso mais discreto; aquele que não se vê, mas se sente: o peso interior, o das apreensões, das urgências não ditas, das histórias invisíveis. Mesmo quando os corpos estão estáticos, as suas almas permanecem em trânsito”, reconhece.
Para Taruma, há, contudo, nesta viagem, estações de ternura e intimidade. “O pai que trança o cabelo da filha numa cena doméstica e amorosa, a criança que brinca com um pneu ou que segura o irmão nos braços enquanto o mundo gira”, enfim, Mahumana, continua o escritor, abre aqui uma janela para o cuidado familiar, para a partilha afectiva que atravessa as casas, as ruas e as gerações.
Quanto a paleta de Mahumana, Taruma reconhece-a como dominada por cores quentes, vibrantes, como ocre, vermelho e laranja — cores que ecoam o calor das ruas, a energia dos mercados, o pó das estradas suburbanas.
A “Viagem do olhar” é “uma viagem pela vida social, emocional e espiritual das cidades africanas. Não é uma viagem turística nem um retrato exótico. É uma viagem feita de dentro, de quem conhece o ritmo das ruas, de quem sabe que as famílias são construídas no esforço colectivo, que a sobrevivência é partilhada, que as dores e as alegrias são tecidas no mesmo pano”.
Albino Mahumana nasceu em Outubro de 1970, Maputo, Moçambique. Aprendeu a pintar na infância com o seu pai, o conceituado artista plástico moçambicano Mankew Valente Mahumana, com quem trabalhou e aprofundou as suas técnicas nas artes plásticas. Primeiro começou por desenhar com areia, depois passou a desenhar com lápis e a cores no papel.
Nessa altura, ajudava o pai na limpeza do atelier, lavava os pincéis e, se necessário, retirava os pregos das telas.
Actualmente, para além de trabalhar em tela (a partir de 2017 passou a dedicar-se intensamente à pintura), utiliza como suporte diversos materiais como: garrafas de vidro, baldes de gelo em metal, cabaças e madeira em diversos formatos. Retrata o quotidiano e as vivências dos moçambicanos, como mulheres com fardos na cabeça, a fazer negócios nos mercados locais, a regressar das suas quintas, mulheres a prepararem comida, a regressarem da busca de água, a cuidarem dos seus filhos, em momentos de laser, bem como crianças a brincarem. Tem-se dedicado a pesquisar diversas técnicas e a procurar novos talentos nas artes visuais. Orientou diversas oficinas de pintura para alunos de diferentes escolas.
Fonte: O País