Banco Mundial reitera compromisso com o desenvolvimento de Moçambique, mas alerta para a persistência de desafios económicos estruturais

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Nos últimos cinco anos, o Banco Mundial tem sido um dos principais motores do desenvolvimento económico de Moçambique, canalizando investimentos estratégicos e promovendo reformas estruturais para garantir um crescimento sustentável. Contudo, apesar dos progressos, desafios profundos continuam a comprometer a estabilidade e a inclusão económica no País. No final da sua missão no País, Idah Pswarayi-Riddihough, Directora do Banco Mundial para Moçambique, cobrindo igualmente Madagascar Mauricias e Seychelles, em entrevista exclusiva ao O Económico, alerta que sem reformas mais incisivas e uma abordagem eficaz à governação económica, os avanços podem tornar-se frágeis e insuficientes para assegurar a prosperidade da população.

Avanços económicos: crescimento, mas com disparidades regionais

A expansão da electrificação tem sido um dos maiores triunfos da última década, com o acesso à electricidade a subir de 31% em 2018 para 53,5% em 2023. “Este avanço permitiu que mais moçambicanos pudessem beneficiar de oportunidades económicas, mas há ainda um longo caminho a percorrer para que o acesso seja equitativo em todo o país”, destaca Pswarayi-Riddihough.

A Directora do Banco Mundial sublinha que a aposta em infra-estruturas sociais foi outra conquista relevante. “Melhorámos o acesso à água e ao saneamento para milhares de crianças, permitindo um regresso seguro às escolas após a pandemia da COVID-19”, frisou. No entanto, alerta que a desigualdade no acesso a serviços básicos continua a ser um dos maiores entraves ao crescimento inclusivo. “As disparidades regionais são preocupantes e, se não forem corrigidas, poderão comprometer os ganhos económicos alcançados até agora”, afirmou.

A crise humanitária no norte do país, alimentada pelo conflito armado e pela fragilidade institucional, também é um factor limitante. “A reconstrução e o desenvolvimento do Norte exigem mais do que investimentos financeiros. Precisamos de uma abordagem integrada que combine segurança, desenvolvimento social e criação de empregos”, afirmou Pswarayi-Riddihough, sublinhando que a resposta do governo ainda é insuficiente para mitigar as dificuldades enfrentadas pelas populações deslocadas.

Reformas económicas: um caminho de avanços tímidos e hesitantes

Embora Moçambique tenha dado passos importantes na implementação de reformas, Pswarayi-Riddihough reforça que a fragilidade institucional e a falta de eficiência na execução das políticas ainda são entraves ao progresso. “A criação do Fundo Soberano de Moçambique foi um passo essencial para a gestão responsável das receitas dos recursos naturais, mas a sua eficácia dependerá da implementação de mecanismos sólidos de transparência e fiscalização”, adverte.

O Banco Mundial tem insistido na necessidade de melhorar a sustentabilidade fiscal, mas os avanços nesta área ainda são limitados. “O país tem feito esforços para melhorar a gestão da dívida, mas ainda há riscos elevados. Sem um controle rigoroso da despesa pública e uma política fiscal mais eficiente, Moçambique continuará vulnerável a choques externos”, afirmou.

A elevada dependência da economia moçambicana do sector extrativo é outro ponto crítico. “O crescimento impulsionado pelo gás natural precisa de ser complementado por uma estratégia de diversificação. Sem isso, os benefícios da exploração de recursos serão limitados a poucos sectores, deixando a maioria da população sem oportunidades reais de melhoria de vida”, sublinha a Directora.

Oportunidades e riscos para o futuro

Para garantir um crescimento económico sustentável, o país precisa de apostar no capital humano e no sector privado. “Moçambique tem uma população jovem e dinâmica. Se não investirmos na formação e capacitação, estaremos a comprometer o futuro do país”, sublinha Pswarayi-Riddihough.

A resiliência climática também figura como uma das prioridades urgentes. “Infra-estruturas adaptadas às mudanças climáticas e uma melhor gestão dos recursos naturais serão essenciais para evitar retrocessos e garantir a sustentabilidade do crescimento”, enfatiza a Directora.

Apesar dos desafios, o Banco Mundial mantém-se comprometido com Moçambique. “Continuaremos a apoiar o país na implementação de políticas económicas sólidas, mas é fundamental que as reformas avancem de forma mais determinada e consistente”, concluiu Pswarayi-Riddihough.

A pressão sobre o governo e o sector privado para acelerar reformas estruturais é cada vez maior. “Se não houver mudanças mais profundas no ambiente de negócios, na governação e na sustentabilidade fiscal, Moçambique corre o risco de continuar preso num ciclo de crescimento volátil e desigual”, alerta a economista. A questão que se coloca agora é se o país terá a capacidade e a vontade política para implementar as reformas necessárias antes que seja tarde demais.

Fonte: O Económico

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