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Bancos centrais começam a integrar mudanças climáticas nas suas políticas de supervisão

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À medida que os impactos das alterações climáticas se tornam mais visíveis e intensos, os bancos centrais e reguladores financeiros em todo o mundo começam a incorporar os riscos ambientais nas suas políticas de supervisão e análise macroeconómica. A transição para uma economia de baixo carbono é encarada como inevitável, e a estabilidade do sistema financeiro depende agora, em parte, da capacidade de adaptação das instituições monetárias à nova realidade climática — como analisam Siddharth Tiwari, ex-director de Estratégia do FMI, e Patrick Amir Imam, economista do Banco Central Europeu, no artigo publicado na revista Finance & Development do FMI.

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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>As alterações climáticas deixaram de ser apenas um tema ambiental ou de política energética. Para o sector financeiro, representam hoje riscos sistémicos com potencial de provocar instabilidade nos mercados e nos balanços das instituições. Tiwari e Imam classificam estes riscos em duas categorias principais: os riscos físicos, resultantes de eventos climáticos extremos como secas, inundações ou ciclones, e os riscos de transição, associados às mudanças nas políticas públicas, nas tecnologias e no comportamento dos consumidores.

Estas ameaças já motivam bancos centrais e entidades supervisoras a incorporar cenários climáticos nos testes de esforço aplicados a bancos e seguradoras, como é o caso do Reino Unido. A coligação Network for Greening the Financial System (NGFS) — composta por bancos centrais e supervisores de todo o mundo — tem desempenhado um papel central na definição de novas metodologias para esta integração.

Política monetária sob influência climática

No artigo, Tiwari e Imam explicam como os efeitos climáticos podem afectar directamente a política monetária, seja por via da redução da produtividade (causada por perturbações climáticas), seja pelo aumento da incerteza e da volatilidade da inflação. Uma das recomendações passa pela aplicação de descontos diferenciados sobre colaterais com maior exposição a riscos climáticos nas operações de refinanciamento dos bancos centrais, como forma de mitigar o risco sistémico e encorajar práticas mais sustentáveis no financiamento.

A gestão das carteiras de activos dos bancos centrais — incluindo fundos soberanos, reservas internacionais e planos de pensões — também deverá incorporar critérios ESG (ambientais, sociais e de governação), defendem os autores. Alguns bancos, como os da Suécia e da Suíça, já iniciaram este processo, servindo de referência para outros bancos centrais que ponderam seguir o mesmo caminho.

Oportunidade estratégica e riscos de inércia

Embora os riscos sejam evidentes, Tiwari e Imam sublinham que as alterações climáticas representam também uma oportunidade para o sector financeiro liderar a transição para uma economia de baixo carbono. Com investimentos estimados em múltiplos triliões de dólares até 2030, existe margem para que bancos, investidores e seguradoras redireccionem capital para sectores sustentáveis e resilientes ao clima.

No entanto, alertam para os perigos de inércia regulatória, greenwashing e ausência de normas comuns, que podem minar a credibilidade da chamada finança sustentável. A falta de dados credíveis e comparáveis continua a ser um dos principais entraves à actuação eficaz dos supervisores e dos investidores responsáveis.

FMI reforça abordagem climática, mas faltam dados

O Fundo Monetário Internacional tem reforçado o seu envolvimento nesta agenda, incluindo riscos climáticos nas análises macrofinanceiras e conduzindo testes de esforço específicos para catástrofes naturais, como os realizados nas Bahamas e na Jamaica. Tiwari, ex-alto responsável do FMI, lembra que o Fundo está também a desenvolver modelos para avaliar riscos de transição em países dependentes da exportação de combustíveis fósseis.

Apesar dos avanços, os autores reconhecem que ainda há um défice profundo de informação climática padronizada, que dificulta a avaliação de riscos, a regulação eficaz e a definição de políticas públicas coerentes. O apoio a iniciativas como a Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD) é essencial para melhorar a qualidade e comparabilidade dos dados disponíveis.

Agir com urgência e visão

O texto de Tiwari e Imam é claro no diagnóstico: as alterações climáticas deixaram de ser uma externalidade e passaram a ser uma realidade com impactos profundos na estabilidade financeira global. A resposta dos bancos centrais e dos reguladores não pode mais ser adiada ou tratada como secundária. A credibilidade do sistema financeiro, e a eficácia das políticas públicas, dependerão cada vez mais da capacidade de antecipar, modelar e mitigar os riscos ambientais.

Por Redacção O.Económico
Com base no artigo de Siddharth Tiwari (ex-director de Estratégia do FMI) e Patrick Amir Imam (economista do BCE), publicado na revista Finance & Development do FMI com o título “Central banks and financial regulators are starting to factor in climate change”

Fonte: O Económico

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