Naquele que será lembrado como um dos discursos mais marcantes da sua presidência, Joe Biden despediu-se do cargo de Presidente dos Estados Unidos com um apelo à acção contra o que descreveu como uma “perigosa concentração de riqueza e poder” no País. Sem citar nomes, mas com referências implícitas, Biden pareceu direccionar suas palavras tanto ao ex-presidente Donald Trump como ao empresário Elon Musk, alertando para o risco de uma nova oligarquia que ameaça corroer os pilares da democracia americana.
Uma crítica à concentração de poder
O Presidente Biden iniciou o seu discurso traçando paralelos históricos entre a actualidade e o início do século XX, quando os “barões ladrões” acumulavam vastos recursos e influência, levando à implementação de políticas antitrust para equilibrar o campo económico. Relembrando esses tempos, Biden enfatizou que a questão não é “punir os ricos”, mas assegurar que todos joguem pelas mesmas regras.
“Hoje, está a tomar forma uma oligarquia nos Estados Unidos, composta por pessoas de riqueza, poder e influência extremas. Esta realidade ameaça os nossos direitos fundamentais, as nossas liberdades básicas e a promessa de uma sociedade em que todos possam prosperar,” declarou.
O discurso não apenas revisitou os desafios históricos, mas também lançou um alerta sobre o impacto contemporâneo da concentração de poder económico nas decisões políticas e sociais. Biden desafiou a próxima administração a agir com firmeza para conter a disparidade crescente.
Relação conturbada com Elon Musk
Embora Biden tenha evitado menções explícitas, as críticas pareceram recair especialmente sobre Elon Musk, o empresário mais rico do mundo e figura central em debates sobre o papel do sector privado no cenário político. A relação entre Biden e Musk foi marcada por tensões desde o início do mandato presidencial.
Em 2021, a exclusão de Musk de um evento na Casa Branca, que celebrava o avanço dos veículos eléctricos, tornou-se simbólica. Tesla, maior fabricante de carros eléctricos do mundo, não foi convidada, enquanto empresas como General Motors e Ford foram destacadas, apesar de a produção de veículos eléctricos representar apenas uma pequena fracção das suas operações.
A exclusão foi atribuída ao facto de a Tesla não contar com trabalhadores sindicalizados, um valor que Biden defendeu consistentemente. Contudo, o gesto foi interpretado como um desprezo, o que marcou o início de uma relação conflituosa. Musk, outrora apoiante de políticas democratas, começou a criticar publicamente o governo e acabou por apoiar Donald Trump, inclusive com um investimento significativo na sua campanha de reeleição.
“Foi um erro estratégico afastar certas figuras influentes das discussões,” admitiu um alto funcionário da Casa Branca.
Um apelo à equidade económica
Ao longo da sua presidência, Biden destacou a luta contra a desigualdade económica e a regulamentação de grandes conglomerados tecnológicos. O discurso de despedida reforçou esses temas, sublinhando a necessidade de restaurar um equilíbrio económico que beneficie a maioria e não apenas uma elite privilegiada.
“O que fizemos no início do século XX para limitar o poder dos ‘barões ladrões’ pode e deve ser feito novamente. Não podemos permitir que o poder económico se concentre de forma a esmagar a concorrência, enfraquecer a classe média e ameaçar a democracia,” afirmou Biden.
Perspectivas e desafios para a nova administração
Com um tom quase premonitório, Biden desafiou o governo que se segue a enfrentar a crescente influência de indivíduos e empresas ultrarricas. Ele apelou a políticas corajosas que promovam a redistribuição de oportunidades, reforcem os direitos dos trabalhadores e combatam as práticas monopolistas.
“Estamos num ponto crítico. O nosso próximo passo determinará se continuaremos a ser uma nação onde todos têm uma chance justa ou se permitiremos que poucos controlem o destino de muitos,” alertou.
O discurso não apenas marcou o fim do mandato de Biden, mas também lançou um desafio directo ao sucessor, pedindo que as promessas populistas sejam transformadas em acções concretas para enfrentar a desigualdade e fortalecer as bases democráticas do país.
Contexto político e implicações
A mensagem final de Biden insere-se num momento de grande polarização política nos Estados Unidos, com um crescente debate sobre o papel do dinheiro e da influência no sistema democrático. A sua presidência será lembrada pela tentativa de equilibrar o poder entre sectores estratégicos e a sociedade, embora tenha enfrentado críticas pela execução de algumas políticas.
Para analistas, o discurso de despedida de Biden ressoa como um alerta para as democracias globais, onde a concentração de riqueza e poder desafia os valores fundamentais de equidade, transparência e justiça social.
Fonte: O Económico