Início Desporto «Camacho uniu o plantel e o Benfica abriu portas para outros voos»

«Camacho uniu o plantel e o Benfica abriu portas para outros voos»

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Armando Miguel Correia de Sá, ou apenas o “Comboio da Luz”, deixou o futebol português há mais de 20 anos, aquando da transferência do Benfica para o Villarreal. Para trás ficaram aventuras e lições, pelo dedo de mestres como Carlos Brito e Manuel Cajuda, dos capitães Rui Vitória, Artur Jorge e Simão Sabrosa, e de colegas como Tiago, Nuno Gomes e Pedro Mantorras.

Do outro lado da Península Ibérica, Armando Sá conviveu com estrelas – como Riquelme, Forlán e Pochettino – e acumulou façanhas. Até que optou por arriscar um fim de percurso no Irão, antes da aventura enquanto treinador.

A partir de Vancouver, no Canadá, onde prepara a quarta época como adjunto do Pacific FC – campeão em 2019 – o antigo defesa de Benfica, Sp. Braga Rio Ave e Belenenses recorda, ao Maisfutebol, peripécias e pilares, analisa a Liga portuguesa e o momento de Moçambique, além de espreitar o futuro.

Leia também:

Parte II – «Manuel Cajuda era agressivo nos treinos, só me queria enfiar num buraco»

Parte III – «Forlán chega do Man United e pergunta-me como melhorar…nem sabia o que responder»

Parte IV – «Bruma é atrevido e ousado, o novo Mantorras»

Maisfutebol: Chega ao Benfica em janeiro de 2002, quando o clube atravessava uma fase delicada. No passado mencionou que até se vestiam de costas viradas.

Armando Sá: O clube não era estável. Quando cheguei havia quatro laterais direitos e várias situações por resolver. Cheguei fisicamente forte, pelo trabalho com o mister Manuel Cajuda no Sp. Braga, e quis-me impor com o Jesualdo Ferreira. Fisicamente estava no topo e conseguia arranques que valeram a alcunha de “Comboio da Luz”. No terceiro anel do antigo estádio diziam: «Aí vai o comboio da Luz».

MF: Já agora, identifica algum novo “Comboio da Luz”?

AS: O Álvaro Carreras está em grande forma, ataca e defende com muita qualidade. A ala esquerda está muito bem entregue.

MF: Deixa o Sp. Braga na companhia do médio Tiago. Ainda mantêm a amizade?

AS: No campo a nossa relação era boa, porque eu era um lateral muito ofensivo, o que levava o Tiago a dizer que era o lateral direito, que me tinha de “tapar”. Fora do campo, a nossa relação sempre foi de proximidade. Transferi-me para o Benfica na companhia do Tiago e o Ricardo Rocha chegou mais tarde.

MF: (…)

AS: No decorrer da época 2002/03, o grupo cresceu animicamente e, quando chega o José Antonio Camacho, o Benfica transforma-se. Havia demasiada fuga de informação, mas o treinador fechou o balneário e uniu o grupo. A partir daí, o Benfica construiu uma nova identidade, com jogadores importantes, como o Nuno Gomes e o Geovanni.

MF: E como foi a transição de estádio?

AS: A instabilidade também passou por aí. Tive o privilégio de jogar no antigo e de estrear o novo. Joguei no antigo inteiro e partido. Andámos com a casa às costas, mas o Camacho conseguiu manter o grupo unido. Foi parte do segredo para conquista da Taça de Portugal – em 2004 – algo que não acontecia há oito anos. Fizemos uma segunda volta de Liga fantástica e na Taça UEFA perdemos nos “quartos” com o Inter Milão – depois do nulo em casa, a derrota por 4-3 em Itália, um jogo louco. Pelo meio, o falecimento do Fehér. Nesses anos complicados, o Benfica abriu portas para outros voos.

MF: Quais as sensações de jogar no antigo Estádio da Luz?

AS: Aquele terceiro anel era incrível. Se houvesse tanta modernidade no antigo estádio, então seria algo do outro mundo. Pisar aquele relvado era de muita responsabilidade, misturada com a adrenalina e o orgulho. Foi um privilégio. Cresci a ver o antigo Estádio da Luz lotado, sonhava em pisar aquele relvado.

MF: O que recorda de colegas como Luisão, Mantorras, Simão Sabrosa e Nuno Gomes?

AS: O Luisão era um rapaz muito alto, algo desengonçado a correr, e cresceu muito no Benfica, com uma voz de comando. Sempre foi inteligente, capaz de orientar os parceiros de defesa. Quanto ao Mantorras, infelizmente não alcançou o patamar que prometia, mas era um diamante, dotado de uma vontade enorme. Para não falar da potência do remate, parecia que a bola ia estourar. A alegria que demonstrava a jogar era impressionante.

MF: (…)

AS: O Simão, o “baixinho”, era o capitão. Sempre foi um jogador muito atrevido, que partia para cima dos adversários e ao qual podias confiar a bola. Ele é de Vila Real, onde joguei, mas só o conheci – verdadeiramente – no Benfica. Foi um prazer trabalhar com ele. Sobre o Nuno Gomes, conheci-o na Seleção de sub-18, quando estava ainda no Belenenses. No estágio, o Nuno foi o meu colega de quarto. Mas, de manhã, na hora do treino, não me acordou. Então, despertei aflito, fui para o autocarro e levei com o gozo de todos. Era a minha primeira vez na Seleção, foi uma brincadeira. Mais tarde, no Benfica, conheço um grande jogador e um grande homem, um goleador nato. E ainda é o jogador preferido da minha mãe. De tal forma que só me perguntava pelo Nuno Gomes, nem conseguia comentar outros assuntos.

MF: E o Geovanni, que agora é pastor no Brasil?

AS: Ainda falo com ele. Chegou ao Benfica proveniente do Barcelona, e já tinha a ideia de abraçar Deus. A fé foi crescendo e levou o assunto mais a sério. Sempre foi humilde, mas dizia que foi decisivo para eu, o Miguel e o João Pereira darmos jogadores. O Geovanni era muito rápido e atrevido, foi um grande companheiro.

Prossiga para a segunda parte da conversa do Maisfutebol com Armando Sá.

Fonte: Mais Futebol

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