Resumo
O relatório Coal 2025 da IEA indica que, enquanto a procura global de carvão está a estabilizar ou a diminuir, África está a seguir uma trajetória diferente, com um crescimento moderado e persistente no consumo de carvão. Este aumento é impulsionado pelo setor elétrico, que continua a depender do carvão devido a limitações de investimento em energias renováveis e gás natural. Além da eletricidade, o carvão é importante em setores como cimento, siderurgia e mineração, fundamentais para os programas de infraestruturas e industrialização em vários países africanos. Para muitas economias africanas, o carvão é mais visto como uma questão de segurança energética e competitividade industrial do que como uma escolha climática, devido aos elevados custos de importação de energia.
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p style="margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial">Relatório Coal 2025 Da IEA Revela Trajectória Distinta Do Continente Num Mercado Global Em Recuo
África Segue Em Contraciclo Face À Tendência Global
Segundo o relatório Coal 2025 da IEA, enquanto a procura global de carvão tende a estabilizar ou a entrar em declínio estrutural ao longo da segunda metade da década, África apresenta uma trajectória distinta, marcada por crescimento moderado mas persistente do consumo.
Esta dinâmica reflecte factores estruturais, nomeadamente o crescimento demográfico, a urbanização acelerada, a industrialização incipiente e a necessidade de expandir rapidamente a capacidade de geração eléctrica para responder ao défice energético crónico que afecta grande parte do continente.
Geração Eléctrica Continua A Sustentar A Procura
A IEA identifica o sector eléctrico como o principal motor da procura de carvão em África. Em vários países, o carvão permanece uma fonte de base para sistemas eléctricos ainda frágeis, onde alternativas como renováveis intermitentes ou gás natural enfrentam limitações de investimento, infra-estrutura e escala.
O relatório sublinha que, apesar do crescimento das renováveis, o carvão continua a desempenhar um papel de estabilização do sistema eléctrico, sobretudo em economias com capacidade limitada de armazenamento e redes pouco robustas.
Indústria Pesada E Segurança Energética
Para além da electricidade, o carvão mantém relevância em sectores como cimento, siderurgia e mineração, actividades essenciais para os programas de infra-estrutura e industrialização em curso em vários países africanos.
A IEA observa que, para muitas economias africanas, o carvão é visto menos como uma escolha de política climática e mais como um instrumento de segurança energética e competitividade industrial, num contexto de custos elevados de importação de combustíveis e volatilidade cambial.
Financiamento E Pressão Externa Como Limites Ao Crescimento
Apesar da trajectória de crescimento, o relatório é claro quanto aos constrangimentos estruturais. O acesso a financiamento internacional para novos projectos de carvão tornou-se cada vez mais restrito, em resultado de políticas climáticas de bancos multilaterais, investidores institucionais e seguradoras.
Esta pressão externa limita a modernização do parque termoeléctrico africano, criando um paradoxo: a procura existe, mas o investimento é escasso, o que pode resultar em infra-estruturas envelhecidas, menor eficiência e maiores emissões por unidade de energia produzida.
Transição Energética Assimétrica E Gradual
O Coal 2025 reconhece explicitamente que a transição energética africana ocorre a um ritmo distinto do observado em economias avançadas. A prioridade para muitos países continua a ser o acesso universal à energia, mesmo que isso implique manter fontes fósseis no mix energético durante mais tempo.
Neste contexto, a IEA sublinha que a trajectória africana não é incompatível com os objectivos climáticos globais, desde que acompanhada por ganhos de eficiência, integração progressiva de renováveis e apoio financeiro internacional adequado.
Risco De Dualidade Energética
Um dos alertas implícitos do relatório prende-se com o risco de África enfrentar uma dualidade energética: por um lado, pressões externas para abandonar o carvão; por outro, necessidades internas de crescimento económico, industrialização e electrificação.
Sem mecanismos robustos de financiamento climático e transferência tecnológica, o continente poderá ficar preso a soluções subóptimas, com impacto negativo tanto no desenvolvimento como na sustentabilidade ambiental.
Entre Necessidades De Electrificação E Limites Da Transição Energética
O cenário traçado pela IEA indica que o carvão continuará a desempenhar um papel transitório relevante no mix energético africano ao longo desta década, não por opção política, mas por imperativos económicos e estruturais ligados ao acesso à energia, à industrialização e à segurança do abastecimento.
A questão central para os decisores africanos deixa de ser a eliminação imediata do carvão e passa a ser a gestão do seu uso num quadro de transição gradual, combinando ganhos de eficiência, modernização do parque termoeléctrico e integração progressiva de fontes renováveis, num contexto em que o financiamento climático permanece insuficiente e assimétrico.
Sem um apoio internacional mais consistente, o risco é o continente permanecer preso a soluções energéticas menos eficientes, comprometendo simultaneamente os objectivos de desenvolvimento económico e a trajectória de redução de emissões.
Fonte: O Económico






