Quando a vida se desenrola entre tons primaveris – a espreitar o verão – os episódios chuvosos ameaçam destroçar o percurso trilhado. Nessas fases, há que recolher a porto seguro e preparar novas contendas. E assim fez o Casa Pia.
Depois do desaire nos Açores – interrompendo a histórica série na Liga – os “Gansos” retomaram a via dos triunfos. Às custas do Estrela da Amadora (1-0), a clarividência nas transições revelou-se decisiva.
Neste duelo da 21.ª jornada, na noite deste domingo, João Pereira trocou duas peças, com Tchamba e Kraev a cederem os lugares a Kluivert e Miguel Sousa. Entre os visitantes, José Faria promoveu a estreia do guardião João Costa.
Recorde a história do duelo entre “Gansos” e “Tricolor”.
Na ânsia de migrar para zona segura, o Estrela protagonizou um arranque pleno de intensidade, empurrado pelas dezenas de adeptos que viajaram até Rio Maior. Todavia, a vontade de os forasteiros procurarem a profundidade esbarrou na precipitação.
Por norma tranquilos, os comandados de João Pereira encetaram a resposta aos 12 minutos, quando Rafael Brito atirou à malha lateral. Entre cantos e cruzamentos, só João Costa adiou o golo dos “Gansos”, estacionando a “bicicleta” de Cassiano e travando o remate de José Fonte. Pelo meio, Brito tirou tinta à trave.
Ora, estava evidente. O golo era uma questão de tempo. Quando o relógio pisava os 37 minutos, Cassiano aproveitou a combinação de Livolant e Larrazabal – pela direita – para inaugurar o marcador. Antes de assinar o sétimo golo na Liga, o brasileiro, de 35 anos, descartou Ferro e empurrou o esférico para a rede.
Até ao intervalo, o Estrela quebrou emocionalmente – o que até poderia valer o segundo amarelo a Rúben Lima – e abriu clareiras atrás. Nessa fase, o Casa Pia – dotado de dinâmicas muito bem oleadas – apenas pecou na finalização, depois de sucessivas diagonais e investidas bem estruturadas.
Para a etapa complementar, José Faria reforçou a pressão e apostou em Léo Cordeiro e Fábio Ronaldo, em detrimento de Chico Banza e Keliano. Mas, de novo, a ansiedade do “Tricolor” incomodou a coragem e ambição. Isto porque o Estrela foi capaz de cimentar posições na frente, sem descurar os contra-ataques. Todavia, a construção era errática, raramente pensada.
O espelho de tal está no facto de a melhor oportunidade do Estrela remeter para o minuto 67, quando Rodrigo Pinho encheu o pé num livre direto, ligeiramente descaído para a direita.
Entre trocas, riscos e avisos, o marcador não mudou, com a defesa do Casa Pia a reforçar a capacidade de resistência. E, assim, os “Gansos” retomaram a via dos triunfos.
Sem perder em Rio Maior, para a Liga, desde agosto, o Casa Pia atinge os 33 pontos, no 6.º posto. Enquanto aponta à Europa e ao recorde de pontos (41), a turma de João Pereira centra atenções na visita ao Moreirense (11.º), na tarde de sábado (15h30).
Por sua vez, o Estrela da Amadora permanece no 16.º lugar, que obriga a play-off, e continua a um ponto da zona segura. Ao cabo de seis jornadas sem vencer, segue-se a “final” do Bessa, frente ao Boavista (18.º), na noite de sexta-feira (20h15).
Embaixador do ataque dos “Gansos”, sobretudo pelo golo decisivo, o brasileiro fez muito mais do que rematar. Em 17 tentativas, Cassiano converteu 12 passes, um dos quais importante para o golo. Ora a meio-campo, ora na área, é o embaixador das edificações de Nuno Moreira, Lelo, Livolant, Brito e Larrazabal. Este Casa Pia funciona como uma máquina de ponta, na qual o obreiro confia aos protagonistas a missão de recuperar a primavera.
O final da primeira parte espelhou a melhor versão do Casa Pia, de construção fluída e pragmática, mas racional e intensa. Em suma, de deixar qualquer adversário desnorteado. E até em situações de ajuste, como se viu na segunda parte, os “Gansos” permanecem perigosos. Tal está ao alcance de um grupo que confia o destino ao timoneiro: João Pereira, de 33 anos.
Na flash, escutei o meu conterrâneo Ferro – defesa ex-Benfica e titular no Estrela – a apontar a Hélder Malheiro, sobretudo pelas marcas deixadas em Amine antes do golo do Casa Pia. Se as marcas são factuais, não é menos verdade que o “Tricolor” demorou a assentar em Rio Maior. Ademais, a ansiedade foi sempre maior do que a vontade de construir e atacar.
À margem de opiniões do referido lance, o Estrela necessita de outro futebol, de menos “chutão” e maior organização. Na noite deste domingo, as diferenças entre as equipas foram abismais. Para fugir à despromoção, este Estrela necessita de outro brilho. Não basta recrutar novas unidades.
Fonte: Mais Futebol