Questões-Chave:
Na contagem decrescente para a celebração dos 50 anos da independência nacional, o Presidente da República, Daniel Chapo, traça uma visão governativa ambiciosa que conjuga firmeza contra a corrupção, reestruturação institucional profunda e dinamização da economia através de sectores estratégicos. Trata-se de uma inflexão política que promete não apenas continuidade, mas também ruptura com práticas instaladas.
Um Diagnóstico Claro: Estado Refém da Corrupção e da Dependência Extractiva
Durante o seu encontro com a comunicação social, Daniel Chapo delineou os contornos do que descreve como “os maiores desafios da governação”: a corrupção, a segurança e a necessidade urgente de independência económica. Denunciando o impacto paralisante da corrupção — que, nas suas palavras, “afecta e infeta” o funcionamento do Estado —, o Presidente reconheceu que as empresas públicas, incluindo a própria máquina estatal, têm sido minadas por interesses instalados e conflitos de interesse.
“Precisamos de integridade nas nossas empresas públicas e integridade no nosso Estado”, declarou com ênfase.
O Presidente retomou o exemplo das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), cujo processo de reestruturação — que inclui uma auditoria forense, a substituição da administração e a aquisição de novas aeronaves — serve como símbolo da sua nova abordagem. Mas advertiu: “a LAM é apenas o começo”. O plano é intervir noutras empresas estatais que deixaram de gerar receitas, aplicando uma lógica empresarial de eficiência e rentabilidade.
Reestruturar com Ética e Sem Alaridos: A Nova Gramática da Governação
Ao reafirmar que a governação será guiada por “ética, responsabilidade e competência”, Chapo rejeita tanto a impunidade como a retórica belicista. “Sem caça às bruxas”, diz, a governação será feita com firmeza silenciosa. Tal postura, segundo analistas políticos, visa consolidar autoridade institucional ao mesmo tempo que evita antagonismos prematuros com sectores influentes.
A estratégia encaixa numa visão de “Estado produtor de valor”, onde as empresas públicas devem ser não apenas sustentáveis, mas geradoras de dividendos e estímulo económico.
Diversificação e Industrialização: Os Eixos do Crescimento Sustentável
Num país onde a indústria extractiva representa mais de 60% das receitas de exportação, Chapo sublinha que esta dependência representa um entrave estrutural à soberania económica. Para inverter esta trajectória, o Presidente aposta em sectores considerados catalisadores do desenvolvimento:
“A economia precisa de ser diversificada. Com mais recursos financeiros, poderemos garantir melhores condições de vida em áreas fundamentais como educação, saúde, habitação, saneamento e acesso à água potável”, afirmou Chapo.
PESOE 2025: Um Plano que Sai do Papel
Através do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE-2025), o Governo pretende materializar estas metas estruturais. O porta-voz do Executivo, Inocêncio Impissa, garantiu que a implementação será acelerada, dando prioridade ao pagamento de pendências salariais na Saúde, regularização de fornecimentos ao Estado e dinamização do investimento público.
“Tudo o que o Governo levou à Assembleia para aprovação é prioridade para este ano”, afirmou Impissa, num sinal de que a execução orçamental será acompanhada com rigor político.
Uma Governação em Tom de Missão Nacional
A mensagem de Daniel Chapo tem uma forte carga simbólica: governar é “varrer” o que não funciona e restituir a esperança aos moçambicanos. Ao apontar o compromisso com os próximos 50 anos, coloca-se num horizonte político de médio-longo prazo, em que o Estado deixa de ser um espaço de captura e se transforma num agente de desenvolvimento.
Analistas observam que esta retórica de missão poderá encontrar obstáculos na burocracia, nos interesses instalados e na pressão de actores internacionais — sobretudo num contexto de dependência da ajuda externa e fragilidades institucionais.
Chapo parece consciente do desafio que tem pela frente. As suas declarações desenham um roteiro de governação orientado para a acção e a correcção de distorções estruturais. Com um discurso ancorado em integridade, produtividade e soberania económica, o Presidente apresenta-se como líder de um novo ciclo — mais exigente, mais técnico e potencialmente mais transformador. Mas os próximos meses serão decisivos para medir se esta visão se materializa em reformas tangíveis e resultados duradouros.
Fonte: O Económico