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A economia chinesa cresceu 5,4% no primeiro trimestre de 2025, acima das expectativas do mercado, sustentada por um consumo robusto e pela recuperação da produção industrial. Contudo, o crescimento enfrenta agora uma ameaça significativa: o agravamento da guerra comercial com os Estados Unidos, que poderá desencadear um abrandamento económico prolongado, alertam os analistas.
Segundo dados divulgados esta quarta-feira, 16 de Abril, o crescimento do PIB da China no período Janeiro–Março manteve-se estável face ao trimestre anterior, mas superou os 5,1% esperados pelos analistas da Reuters. O impulso foi garantido pelo consumo interno e por um desempenho acima do previsto da indústria transformadora. A produção fabril subiu 7,7% em Março, enquanto as vendas a retalho avançaram 5,9%.
Ainda assim, a economia enfrenta uma crescente vulnerabilidade externa: o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevou recentemente as tarifas sobre os produtos chineses para 145%, desencadeando retaliações de Pequim, que impôs taxas de até 125% sobre bens norte-americanos. O impacto potencial sobre as exportações chinesas, uma das principais alavancas do crescimento, é significativo.
O banco ANZ reviu em baixa a sua previsão de crescimento do PIB chinês para 2025, de 4,8% para 4,2%, e o UBS foi ainda mais pessimista, apontando para um crescimento de apenas 3,4%, caso a disputa comercial se mantenha. “O choque tarifário coloca desafios sem precedentes às exportações da China”, advertiram analistas do UBS.
A conjuntura interna também levanta preocupações. O sector imobiliário continua em declínio, com um recuo de 9,9% nos investimentos no primeiro trimestre. Os preços das habitações mantêm-se estagnados e a deflação, aliada a um elevado desemprego entre os jovens, levanta dúvidas sobre a sustentabilidade da recuperação.
Apesar dos sinais positivos nos indicadores de curto prazo, como o excedente comercial de 2024 e o bom desempenho no consumo, o panorama a médio prazo é incerto. O governo chinês tem defendido que possui margem para aplicar estímulos adicionais, mas enfrenta crescentes restrições orçamentais, tendo a Fitch recentemente revisto em baixa o rating de crédito soberano da China, citando o aumento da dívida pública.
Segundo Raymond Yeung, economista-chefe do ANZ, a única saída possível poderá ser “uma grande expansão fiscal”, comparável às respostas de Pequim à crise financeira global de 2008 e ao surto de COVID-19 em 2020.
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, reconheceu esta semana a complexidade da conjuntura e prometeu reforçar os incentivos ao consumo interno, reconhecendo que os exportadores do país enfrentam “mudanças externas profundas” que exigem respostas rápidas e coordenadas.
Fonte: O Económico