Cimeira do BRICS Rejeita Tarifas Unilaterais e Ataques no Médio Oriente: Fragmentação Geopolítica Sombra Encontro no Brasil

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Sob o peso de ausências diplomáticas e tensão geopolítica, a mais recente cimeira do BRICS, realizada no Brasil, terminou com uma declaração firme contra o proteccionismo tarifário e as acções militares no Médio Oriente — embora sem nomear explicitamente os Estados Unidos ou Israel. O encontro, marcado por recuos estratégicos e tentativas de manter a coesão interna, reflecte os dilemas do bloco na sua tentativa de afirmar-se como alternativa à ordem global dominada pelo Ocidente.

A cimeira de dois dias do BRICS, realizada no Rio de Janeiro, decorreu num contexto global marcado pela intensificação da guerra tarifária impulsionada pelo regresso de Donald Trump à presidência dos EUA e pelas tensões no Médio Oriente após os ataques ao Irão. A declaração final do grupo expressou “sérias preocupações” com o aumento de tarifas “inconsistentes com as regras da OMC” e denunciou o impacto destas medidas na estabilidade do comércio global.

Sem mencionar directamente os EUA, os líderes alertaram para o risco de desorganização das cadeias de abastecimento, agravamento das desigualdades e incerteza económica prolongada. Também condenaram os ataques ao Irão, reiterando solidariedade, mas evitando apontar responsabilidades — numa tentativa visível de evitar a exposição diplomática directa.

Ausências de Peso e Diplomacia de Equilíbrio

Dois dos principais membros do BRICS — a China e a Rússia — estiveram ausentes fisicamente. O Presidente Xi Jinping não participou pela primeira vez desde 2012, sendo substituído por uma delegação técnica. Vladimir Putin discursou por videoconferência, contornando o mandado de detenção internacional emitido após a invasão da Ucrânia.

A ausência das duas potências reforçou o protagonismo do anfitrião, o Presidente brasileiro Lula da Silva, que aproveitou para criticar a escalada armamentista da NATO — especialmente a meta de gastar 5% do PIB em defesa até 2035. “É sempre mais fácil investir na guerra do que na paz”, afirmou Lula, que também advogou pela reforma das instituições globais lideradas pelo Ocidente.

Contudo, analistas observaram que o Brasil procurou evitar conflitos directos com Washington, optando por uma agenda de baixo risco centrada no comércio, saúde e mudanças climáticas, face às ameaças de Trump de aplicar tarifas de 100% aos membros do BRICS que desafiem o domínio do dólar.

Expansão em Curso, Mas Coesão em Risco

Com novos membros como Indonésia, Irão, Egipto, Etiópia e Emirados Árabes Unidos, o BRICS alargado procura agora integrar 10 países parceiros estratégicos — incluindo Cuba, Vietname e Bielorrússia — o que exige reformas institucionais internas para garantir eficácia e representação equilibrada.

“A cimeira tinha potencial para afirmar o BRICS como alternativa num mundo instável, mas revelou dispersão e ausência de articulação de alto nível”, comentou João Alfredo Nyegray, professor de geopolítica internacional.

O desafio de manter coesão entre países com perfis tão diversos, interesses económicos díspares e níveis de desenvolvimento assimétricos foi evidente. A ausência de líderes e a hesitação em tratar temas sensíveis comprometeram, segundo observadores, a capacidade do BRICS de actuar como polo de liderança global coeso.

Agenda Paralela: Ambiente e Clima em Destaque

Apesar das tensões políticas, a cimeira serviu para lançar compromissos preliminares antes da COP 30, que terá lugar em Novembro, em Belém (Brasil). O Presidente Lula aproveitou a ocasião para defender acordos multilaterais sobre protecção ambiental e justiça climática, numa tentativa de reforçar o papel do BRICS em negociações globais.

No entanto, a agenda ambiental não escapou à crítica. A Amnistia Internacional protestou contra os planos brasileiros de perfuração petrolífera na foz do rio Amazonas, e activistas colocaram bandeiras arco-íris em Ipanema para denunciar a política do Irão contra a comunidade LGBT+.

A cimeira do BRICS de 2025 revelou mais as limitações do bloco do que os seus pontos fortes. O discurso contra o unilateralismo, as tarifas e os ataques militares não foi acompanhado de uma actuação coordenada, nem de posicionamentos ousados. A vontade de evitar atritos com potências ocidentais, em especial os EUA de Trump, condicionou a ousadia diplomática dos participantes.

Ainda assim, o encontro reafirma a importância do BRICS como espaço de articulação entre economias emergentes — um foro necessário, embora ainda distante de constituir uma verdadeira alternativa sistémica à ordem liberal ocidental.

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Fonte: O Económico

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