O mais recente relatório da UNCTAD destaca o papel cada vez mais estratégico do cobre na economia global, impulsionado pela transição energética e pela digitalização. Contudo, países em desenvolvimento permanecem presos ao extrativismo, enfrentando tarifas penalizadoras e lacunas estruturais que limitam a sua integração em cadeias de valor de maior valor acrescentado
A procura por cobre está a entrar numa nova fase de expansão estrutural, alicerçada na necessidade de descarbonização da economia global e na rápida digitalização. Segundo o relatório Global Trade Update – May 2025, da UNCTAD, a procura global por cobre poderá crescer mais de 40% até 2040, exigindo investimentos superiores a 250 mil milhões de dólares e o desenvolvimento de pelo menos 80 novas minas nos próximos cinco anos.
No entanto, esta corrida pelo cobre revela desequilíbrios preocupantes. Enquanto países como Chile, Peru e a República Democrática do Congo detêm mais de metade das reservas mundiais, é a China que lidera o processamento e refinação, representando 45% da capacidade global. África, por sua vez, apesar de ser exportadora líquida de minério, participa com apenas 9% da refinação global.
O relatório alerta que “minerar e exportar já não é suficiente”. Para capturar valor real, os países produtores devem avançar na cadeia de valor: refinar, manufacturar e comercializar produtos transformados. Actualmente, o valor acrescentado está concentrado nos produtos semi-transformados e transformados como fios, tubos, chapas e componentes para veículos eléctricos. Só o cobre transformado em fio representa 63% do uso industrial inicial.
Contudo, obstáculos estruturais persistem. As tarifas de nações importadoras penalizam a transformação local: enquanto o cobre refinado enfrenta tarifas médias abaixo de 2%, produtos transformados como fios, tubos e chapas enfrentam tarifas de até 8% na Coreia do Sul e 7,5% na Índia, criando barreiras ao avanço industrial dos exportadores primários.
A título de exemplo, embora a República Democrática do Congo tenha quase triplicado a sua produção mineira entre 2016 e 2024, permanece com um índice de complexidade económica significativamente abaixo da média global (PCI: -0,55), em contraste com a Indonésia, que apresenta capacidades industriais mais avançadas (PCI: 2,05).
Neste contexto, a UNCTAD propõe um conjunto de opções estratégicas para os países em desenvolvimento:
Além disso, o relatório mostra que a geopolítica da cadeia de valor do cobre tem vindo a sofrer uma reconfiguração notável: enquanto o Japão era o maior importador de cobre em 2003, em 2023 a China dominava com 60% das importações globais, consolidando-se como o centro nevrálgico da transformação do cobre.
Por fim, o documento reforça que “a próxima fase do desenvolvimento dos países ricos em cobre não depende apenas da exploração, mas da capacidade de industrializar, inovar e competir com produtos de maior valor”. A aposta no cobre reciclado e na manufactura avançada é apresentada como chave para um crescimento mais inclusivo e sustentável.
Fonte: O Económico