O relatório Global Economic Prospects (GEP) de Janeiro de 2025, divulgado pelo Banco Mundial, revela um crescimento global projetado de 2,7% em 2025 e 2026, apontando para uma estabilização após anos de choques consecutivos. No entanto, o mundo parece estar a ajustar-se a um novo normal de crescimento baixo, incapaz de sustentar o desenvolvimento económico em larga escala. Este cenário coloca desafios significativos, especialmente para economias emergentes e em desenvolvimento (EMDEs), que representam 60% do crescimento global.
Uma nova realidade para as economias emergentes e em desenvolvimento
Desde o início do século XXI, as EMDEs emergiram como um motor central do crescimento global, aumentando a sua participação no PIB mundial de 25% em 2000 para 45% em 2025. Esse crescimento foi alavancado por uma forte integração comercial e financeira global, liderada pela China, Índia e Brasil. As economias emergentes, coletivamente conhecidas como EM3, contribuíram com cerca de 60% do crescimento global anual desde 2000.
No entanto, o relatório destaca que o ímpeto do crescimento nas EMDEs está a enfraquecer. Medidas protecionistas, fragmentação geopolítica e mudanças demográficas estão a dificultar o progresso. Além disso, os custos crescentes associados às alterações climáticas, como desastres naturais mais frequentes e intensos, estão a pesar sobre as economias emergentes. O resultado é uma desaceleração na convergência dos rendimentos destas economias em relação às economias avançadas, ameaçando o progresso social e económico a longo prazo.
Países de baixo rendimento: Desafios e potenciais
Para os países de baixo rendimento (LICs), a situação é ainda mais desafiante. O ritmo de transição para economias de rendimento médio caiu drasticamente. Atualmente, muitos LICs enfrentam crescimento per capita anémico, agravado por conflitos internos, fragilidade institucional e choques externos. O relatório destaca que estes países estão significativamente atrasados em métricas de desenvolvimento em comparação com onde economias similares estavam há 25 anos.
Contudo, o relatório identifica oportunidades importantes para os LICs, como a utilização de vastos recursos naturais para apoiar a transição energética global, o aproveitamento de populações jovens e crescentes, e a expansão do turismo. Estas oportunidades, no entanto, dependem de investimentos em capital humano e físico, reformas fiscais e melhor governança.
O papel do comércio e da integração regional
As EMDEs têm-se tornado cada vez mais interdependentes, com quase metade das suas exportações direcionadas a outras economias emergentes, em comparação com apenas 25% no início do século. Essa integração reforçou a sincronização dos ciclos económicos entre estas economias e os mercados avançados, criando um “ciclo económico das EMDEs” distinto. No entanto, a fragmentação geopolítica e as barreiras comerciais podem prejudicar essa tendência, minando os avanços dos últimos 25 anos.
Resiliência climática e sustentabilidade
As alterações climáticas continuam a ser uma ameaça crescente para as economias emergentes e de baixo rendimento. Os custos económicos de desastres climáticos, como secas, inundações e tempestades, estão a aumentar, sobrecarregando as economias vulneráveis. O relatório enfatiza a necessidade de políticas climáticas robustas que mitiguem os impactos e incentivem transições sustentáveis.
Perspectivas Regionais: Um quadro variado
As perspectivas para 2025 mostram disparidades significativas entre as regiões. Prevê-se uma desaceleração na Ásia Oriental, no Pacífico, na Europa e na Ásia Central, devido à procura interna mais fraca na China e a desacelerações em grandes economias europeias. Por outro lado, espera-se um aumento do crescimento na América Latina, no Médio Oriente, no Norte de África, no Sul da Ásia e na África Subsaariana, impulsionado pela robusta procura doméstica.
Chamado à acção: Políticas globais e nacionais necessárias
O relatório sublinha que, para desbloquear o potencial das EMDEs, são necessárias ações coordenadas a nível global e nacional. Globalmente, as políticas devem focar-se na promoção do comércio, na redução das vulnerabilidades da dívida e na mitigação das alterações climáticas. A nível nacional, os governos devem priorizar a estabilidade de preços, aumentar a arrecadação fiscal, reduzir despesas ineficientes e financiar investimentos críticos.
Um momento decisivo para o desenvolvimento global
Com o fim do primeiro quarto do século XXI, o relatório oferece uma análise abrangente das conquistas e desafios enfrentados pelas economias emergentes e em desenvolvimento. Embora o crescimento moderado ofereça alguma estabilidade, os riscos são elevados. As próximas décadas dependerão de intervenções políticas ousadas e eficazes que promovam o crescimento inclusivo e assegurem que nenhuma nação fique para trás no processo de desenvolvimento global.
Fonte: O Económico