Por: Gentil Carneiro
As Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), actualmente em processo crítico de reestruturação, enfrentam mais uma turbulência, desta vez não nos céus, mas na liderança. A nomeação de Dane Kondić como gestor simultâneo da LAM e da Air Botswana provocou uma reação imediata do Conselho de Administração da companhia moçambicana, que determinou que a liderança do executivo australiano-bósnio seja exercida em regime de exclusividade. O episódio, apesar de incomum, levanta questões legítimas sobre a natureza das reformas em curso na LAM, o papel de gestores internacionais em processos de recuperação de empresas estatais africanas e, sobretudo, os limites da partilha de talentos estratégicos entre nações com interesses comerciais e geopolíticos semelhantes.
Dane Kondić foi nomeado em maio de 2025 como presidente da Comissão de Gestão da LAM, num momento em que a companhia atravessa sérias dificuldades financeiras, operacionais e reputacionais. O histórico de Kondić notavelmente como Diretor Executivo da Air Serbia, onde liderou um processo de transformação com apoio da Etihad foi visto como um trunfo técnico e simbólico.
Por isso, o anúncio de sua simultânea nomeação na Air Botswana, a 27 de junho, gerou desconforto em Maputo. As duas companhias atuam na mesma região (África Austral), e ambas buscam recuperar espaço num mercado altamente competitivo e financeiramente exigente. Dada a dimensão estratégica do mercado regional para as ambições da LAM, a sobreposição de lideranças levantou preocupações legítimas quanto o possível conflito de interesses e compromissos.
No entanto, o Conselho de Administração da LAM reagiu com rapidez e clareza, reunindo-se de emergência no domingo subsequente ao anúncio e reafirmando que o cargo de Kondić deve ser exercido em regime exclusivo. Segundo Conselho de Administração da LAM, o próprio gestor teria aceitado a decisão com “disponibilidade”, o que aparenta resolver o impasse de forma diplomática.
Não se limitando a questionar a competência de Kondić, a decisão reflete uma tentativa de proteger a integridade do processo de reestruturação, evitando conflitos de interesse ou sobrecargas de gestão que comprometam os já frágeis resultados da companhia moçambicana.
As Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) entraram numa profunda crise financeira, operacional e institucional, que se agravou ao longo dos últimos anos. E como uma forma de revitalizar a companhia aérea nacional e injetar recursos no processo de reestruturação, O Governo optou recentemente por transferir 91% das ações da LAM para empresas públicas como Hidroelétrica de Cahora Bassa, CFM e EMOSE, medida controversa que, para críticos como o CIP, representa mais uma redistribuição do problema do que uma solução estruturada.
E necessário compreender que, a presença de um gestor com experiência internacional como Kondić pode ser vista como uma aposta de última hora para salvar a companhia. No entanto, isso exige dedicação exclusiva, foco estratégico e clareza de objetivos. Por fim, a decisão das LAM de exigir exclusividade a Kondić deve ser interpretada não como um ato de ciúmes institucionais, mas como um sinal de que a empresa compreende a gravidade de sua situação e exige um compromisso total de quem lidera sua reestruturação. Que esse gesto seja seguido por medidas mais amplas, sustentáveis e estratégicas porque, mais do que recuperar aviões, é preciso resgatar a confiança dos moçambicanos no que representa sua companhia aérea nacional.