O Presidente da República, Daniel Chapo, reuniu-se na noite de domingo com o ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, naquele que foi o primeiro encontro público entre as duas figuras desde o início das manifestações pós-eleitorais em Outubro de 2024. A reunião teve lugar em Maputo e foi confirmada pela Presidência da República como parte de um esforço mais amplo para promover a estabilidade nacional, a reconciliação e a unidade dos moçambicanos.
A reunião foi anunciada horas depois de Chapo ter publicado uma fotografia do encontro na sua conta oficial de Facebook, acompanhada da mensagem: “Diálogo, diálogo, diálogo. Nossa missão, nossa prioridade.”
Diálogo como resposta à crise pós-eleitoral
O encontro surge num momento em que o país ainda vive os efeitos da agitação social desencadeada após as eleições gerais de 9 de Outubro de 2024, cujos resultados foram rejeitados por Mondlane. Desde então, manifestações e protestos espalharam-se por várias províncias do país, tendo provocado, segundo a Procuradoria-Geral da República, pelo menos 80 mortos. Organizações da sociedade civil como a Plataforma Decide indicam mais de 360 vítimas mortais, incluindo menores, além da destruição de centenas de estabelecimentos comerciais, escolas e unidades de saúde.
Venâncio Mondlane, que lidera um movimento de contestação política que apelida de “governo paralelo”, reiterou no final da semana passada estar “aberto e preparado para qualquer diálogo que seja genuíno”, sublinhando que a luta que lidera é “democrática” e centrada nos anseios populares.
“Não temos espingardas, não temos armas, mas enquanto esquivamos as balas, continuamos por outro lado a fazer a luta democrática pelo povo”, afirmou Mondlane numa transmissão em directo nas redes sociais, onde apresentou o seu “Programa Quinquenal 2025-2029”.
Compromisso com o diálogo nacional inclusivo
O encontro entre Chapo e Mondlane acontece semanas após a assinatura, a 5 de Março, do Compromisso Político para um Diálogo Nacional Inclusivo, um acordo subscrito por nove formações políticas com assento parlamentar e autárquico – entre elas a Frelimo, Renamo, MDM e Podemos. Este compromisso visa estabelecer uma base estruturada para discutir reformas essenciais, como a revisão constitucional e a melhoria da governação.
A Presidência considerou esse processo como amplamente positivo, destacando a presença de representantes da sociedade civil, da juventude, da academia, líderes religiosos e da comunidade internacional. O diálogo, segundo o Chefe de Estado, não se centra em pessoas nem em interesses partidários, mas sim na construção colectiva de um país mais justo e inclusivo.
“A disponibilidade para discutir soluções comuns representa um avanço significativo na busca por um Moçambique pacificado, unido e comprometido com o progresso colectivo”, lê-se na nota da Presidência.
Contexto judicial e sensibilidade política
Importa referir que Venâncio Mondlane se encontra sob medida de coacção de termo de identidade e residência, decretada pela Procuradoria-Geral da República a 11 de Março, num processo em que é acusado de incitação à violência no quadro das manifestações. A sua disponibilidade para dialogar, aliada ao gesto do Presidente da República, pode representar um ponto de inflexão na tensão política que o país enfrenta.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>O diálogo entre os dois líderes poderá ser interpretado como um sinal de abertura política, num momento em que Moçambique procura restaurar a confiança nas instituições e estabilizar o clima social e económico. Resta agora acompanhar a evolução do processo e verificar se este gesto se traduzirá numa plataforma real de reformas e reconciliação nacional.
Fonte: O Económico