Desenvolvimento ou Desigualdade Disfarçada? Uma Análise Crítica da Realidade Moçambicana

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Por: Naice Novela

Nos discursos oficiais e nos planos governamentais, o termo “desenvolvimento” é frequentemente apresentado como sinónimo de progresso colectivo. Promessas de reabilitação de estradas, modernização de bairros, digitalização de serviços, e os gráficos de desenvolvimento económicos crescem. No entanto, essa narrativa optimista esconde uma realidade marcada por desigualdades profundas e persistentes.

Como em muitos países com desafios socioeconómicos semelhantes, o desenvolvimento tem sido selectivo. As obras de infra-estrutura concentram-se nas zonas urbanas e centrais, enquanto comunidades periféricas e rurais continuam à margem. A digitalização dos serviços públicos avança, mas ignora milhões que sequer têm acesso à internet, uma exclusão tecnológica que aprofunda o fosso social.

Embora os jovens sejam exaltados como “motores do futuro”, a realidade mostra um cenário de oportunidades escassas. A formação profissional e de qualidade é limitada, e a inserção no mercado de trabalho continua inacessível para muitos. A retórica oficial não se traduz em políticas eficazes que promovam inclusão e mobilidade social.

A exclusão social e a assimetria regional não é declarada, mas é perpetuada por políticas públicas mal distribuídas, investimentos mal direccionados e uma escuta institucional que ignora as vozes das populações vulneráveis. Mulheres em zonas rurais, pessoas com deficiência, idosos negligenciados e jovens sem acesso à educação de qualidade permanecem invisíveis, mesmo quando os indicadores oficiais sugerem progresso.

A exclusão também se manifesta de forma mais sútil: na ausência de representatividade nos espaços de decisão, na inexistência de canais acessíveis à participação cidadã e na invisibilidade estatística de milhares de moçambicanos. Muitos não apenas não têm voz, não são sequer contabilizados nas prioridades nacionais.

O crescimento económico, por si só, não é suficiente. Modernizar cidades enquanto empurra os mais pobres para periferias desassistidas é perpetuar a desigualdade. O verdadeiro desenvolvimento é aquele que distribui oportunidades de forma equitativa, valoriza a diversidade e respeita os direitos sociais de todos os cidadãos, sem excepções.

Este texto não se limita à crítica. É um apelo urgente: que se escutem as vozes dos marginalizados, que se corrijam os desequilíbrios históricos e que se assuma um compromisso sério com um modelo de desenvolvimento justo, inclusivo e sustentável. Porque progresso que não alcança a todos não é progresso, é privilégio.

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