27.1 C
New York
Tuesday, November 4, 2025
InícioSaúdeDesigualdades tornam pandemias mais prováveis, mais mortais e mais caras

Desigualdades tornam pandemias mais prováveis, mais mortais e mais caras

Resumo

Um relatório divulgado antes da reunião do G20 na África do Sul destaca que as desigualdades socioeconómicas tornam as pandemias mais prováveis, letais e prolongadas. A desigualdade é identificada como causa e consequência das pandemias, com sociedades mais desiguais a serem mais vulneráveis a surtos e menos capazes de reagir eficazmente. Durante a Covid-19, países mais desiguais tiveram taxas de mortalidade mais altas e impactos económicos mais graves. O relatório aponta que a desigualdade de género, social e económica afeta diretamente a capacidade de resposta a emergências sanitárias. Para quebrar este ciclo, propõe-se a eliminação de entraves financeiros, investimento nos determinantes sociais da saúde, acesso equitativo à tecnologia e medicamentos, e uma governação mais inclusiva. O relatório destaca a importância de ações estruturais para evitar futuras pandemias repetirem padrões de destruição.

Divulgado às vésperas da reunião do G20, na África do Sul, um relatório mostra que as desigualdades socioeconômicas estão a tornar as pandemias mais prováveis, mais letais e mais prolongadas.

O documento* “Quebrando o Ciclo da Pandemia da Desigualdade, Construindo Segurança da Saúde na Era Global” foi conduzido ao longo de dois anos e coordenado pelo Conselho Global sobre Desigualdade, Aids e Pandemias. A desigualdade é tanto uma causa como uma consequência das pandemias e que, sem ação decisiva, o mundo permanecerá preso num círculo vicioso entre crise sanitária e pobreza.

Desigualdade e pandemias

O relatório descreve um padrão consistente: sociedades mais desiguais são mais vulneráveis a surtos e menos capazes de reagir eficazmente quando estes ocorrem. Durante a Covid-19, países com maior desigualdade registaram taxas de mortalidade mais elevadas e impactos económicos mais profundos.

A falta de acesso a educação, habitação digna e sistemas de saúde resilientes aumentou o risco de contágio e dificultou a recuperação. Ao mesmo tempo, as pandemias aprofundam as desigualdades, empurrando milhões para a pobreza e ampliando disparidades entre países ricos e pobres.

Desde o início da pandemia de Covid-19, 165 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza extrema, enquanto a riqueza dos mais ricos aumentou em mais de 25%. As mulheres, os trabalhadores informais e as minorias étnicas foram os grupos mais afetados, enfrentando perdas de emprego e rendimentos mais severas. A desigualdade de género, social e económica, aponta o relatório, tem impacto direto na capacidade de resposta de um país a emergências sanitárias.

Hospital na Ucrânia surante a pandemia de Covid-19
Unicef/Evgeniy Maloletka

Hospital na Ucrânia surante a pandemia de Covid-19

Caminhos para quebrar o ciclo desigualdade-pandemia

Os autores defendem que apenas uma transformação estrutural pode impedir que futuras pandemias repitam os mesmos padrões de destruição social e económica. Propõem, assim, quatro áreas de ação prioritárias e interligadas.

Em primeiro lugar, eliminar os entraves financeiros que impedem países em desenvolvimento de investir em saúde e proteção social, incluindo a suspensão do pagamento de dívidas durante períodos de crise e a criação de novos mecanismos automáticos de financiamento de emergência.

Em segundo lugar, investir nos determinantes sociais da saúde, como educação, habitação, trabalho digno e nutrição, para reduzir vulnerabilidades antes que as crises surjam. Em terceiro, garantir o acesso equitativo à tecnologia e aos medicamentos, promovendo a produção regional, o levantamento de patentes durante pandemias e a partilha de conhecimento científico como bem público global.

Por fim, construir uma governação mais inclusiva, que envolva comunidades locais e organizações de base nas decisões de preparação e resposta, fortalecendo a confiança e a eficiência das políticas de saúde pública.

O relatório chega num momento em que o financiamento internacional para a saúde sofre cortes drásticos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, OMS, a ajuda externa aos sistemas de saúde poderá cair entre 30% e 40% este ano, comprometendo serviços essenciais, da vacinação à saúde materna.

Um apelo global à ação e à solidariedade

Mais do que um diagnóstico, o relatório é um chamado à ação coletiva. Os seus autores insistem que as pandemias não são inevitáveis, mas o resultado de escolhas políticas e económicas que favorecem a desigualdade.

A segurança sanitária, defendem, deve ser reconcebida como uma questão de equidade e justiça global, e não apenas como uma estratégia técnica de contenção de doenças.

Ao propor soluções concretas que combinam economia, saúde e direitos humanos, o Conselho Global pretende influenciar as discussões do G20 e reforçar o compromisso internacional com um futuro mais seguro e justo. Como resume Winnie Byanyima, diretora-executiva do Projeto Conjunto das Nações Unidas sobre a Sida e HIV, Unaids, “reduzir as desigualdades dentro e entre países é o caminho mais direto para um mundo mais saudável, mais justo e mais preparado”.

O relatório deixa claro que a próxima pandemia não precisa de repetir os erros do passado. Quebrar o ciclo desigualdade-pandemia não é apenas uma questão de saúde pública; é uma questão de sobrevivência coletiva e de humanidade partilhada.

*O relatório é copresidido pelo prémio Nobel da Economia Joseph Stiglitz, pela ex-primeira-dama da Namíbia Monica Geingos e pelo epidemiologista britânico Michael Marmot.

Fonte: ONU

- Advertisment -spot_img

Últimas Postagens

Inauguração da Estrada Khongolote–Molumbela (N1) Reforça Mobilidade e Segurança na Matola

0
O Governo entregou oficialmente a estrada Khongolote–Molumbela (N1) na Matola, financiada pelo Banco Mundial no âmbito do Projecto MOVE, com o objetivo de...
- Advertisment -spot_img