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O dólar norte-americano reduziu os seus ganhos face ao euro e ao iene na passada sexta-feira, à medida que os investidores digeriam a aprovação do pacote fiscal de Donald Trump e voltavam a focar-se nas crescentes tensões comerciais globais e nos potenciais impactos sobre a dívida e os mercados obrigacionistas dos Estados Unidos.
Depois de ter registado uma valorização na quinta-feira, impulsionado por dados robustos do mercado de trabalho, o dólar perdeu força. O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda face a um cabaz de divisas principais — recuou 0,1% para 96,93, depois de ter subido 0,4% no dia anterior. A moeda única europeia valorizou-se 0,2% para 1,1775 dólares, acumulando um ganho semanal de 0,5%, enquanto o iene subiu 0,4%, para 144,40 por dólar.
A recente aprovação da chamada “One, Big, Beautiful Bill” — a ambiciosa proposta fiscal do Presidente Trump — pela Câmara dos Representantes, controlada pelos republicanos, prevê cortes de impostos e aumento da despesa pública, com um impacto estimado de 3,4 biliões de dólares na já elevada dívida pública norte-americana, actualmente em 36,2 biliões de dólares. Trump deverá promulgar a lei esta sexta-feira, feriado do Dia da Independência nos EUA.
Apesar do entusiasmo dos mercados perante sinais de resiliência do mercado laboral, analistas alertam para riscos latentes. “A dinâmica está a levantar questões sobre a sustentabilidade fiscal e a estabilidade do mercado obrigacionista”, advertiu Kyle Rodda, analista sénior da Capital.com.
Com a aproximação da data-limite de 9 de Julho, em que entram em vigor novas tarifas para países sem acordos comerciais com os EUA, como o Japão, a tensão volta a subir. Trump anunciou que várias nações receberão cartas com os detalhes das tarifas aplicáveis, afastando-se da abordagem anterior baseada em acordos bilaterais.
Do lado europeu, Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, afirmou que a UE pretende alcançar um “acordo em princípio” com os EUA antes do prazo. Já o Japão está a enviar novamente o seu principal negociador comercial a Washington, numa tentativa de aliviar o clima de confronto.
Entretanto, os mercados bolsistas reagiram com ganhos. Na sessão encurtada de quinta-feira, o Dow Jones e o S&P 500 subiram cerca de 0,8%, e o Nasdaq valorizou-se 1%.
O relatório de emprego divulgado pelo Departamento do Trabalho dos EUA indicou um crescimento de 147 mil postos de trabalho em Junho, superando as previsões dos economistas, que apontavam para 110 mil. Hirofumi Suzuki, estratega do SMBC, afirmou que “o mercado laboral dos EUA está a abrandar gradualmente, mas sem sinais de colapso”, e antecipou que as negociações comerciais deverão manter a pressão sobre o dólar, favorecendo o iene.
Com os mercados à espera da concretização das tarifas e atentos aos sinais do banco central americano quanto aos juros, o segundo semestre promete ser marcado por elevada volatilidade nos mercados cambiais e uma crescente atenção aos riscos fiscais dos Estados Unidos.
Fonte: O Económico