Questões-Chave
O dólar norte-americano permanece sob forte pressão nos mercados internacionais, atingindo mínimos de três anos e meio contra as principais moedas, num contexto marcado por expectativas de corte nas taxas de juro por parte da Reserva Federal e pelas crescentes interferências políticas do ex-Presidente Donald Trump.
O índice do dólar, que mede o desempenho da moeda norte-americana face a um cabaz de seis divisas de referência, situava-se em 96,677 pontos, muito próximo do mínimo da sessão anterior de 96,373, reflectindo um sentimento global de aversão ao risco cambial sobre o dólar. Desde Fevereiro de 2022 que a divisa não registava valores tão baixos.
As declarações do presidente da Fed, Jerome Powell, na conferência anual do Banco Central Europeu, em Sintra (Portugal), reacenderam as expectativas de um novo corte na taxa de juro ainda este mês. Powell não excluiu essa possibilidade, sublinhando que “tudo dependerá dos dados económicos que forem sendo conhecidos”, com especial atenção para o relatório de emprego do sector não agrícola.
Num cenário já volátil, acrescem os impactos de natureza política. A nova proposta de Trump, que regressa à Câmara dos Representantes após ter sido aprovada no Senado, prevê um pacote fiscal massivo de 3,3 biliões de dólares. A proposta inclui aumentos substanciais de despesa pública e cortes fiscais, levantando receios sobre a sustentabilidade da dívida pública norte-americana e sobre o comportamento futuro do Tesouro.
“É claramente uma expansão do défice e da dívida, algo que não agrada aos mercados obrigacionistas, nem ajuda o dólar”, declarou Rodrigo Catril, estratega do National Australia Bank.
A incerteza aumenta com os ataques persistentes de Trump à independência da Reserva Federal. O antigo Presidente enviou ao presidente da Fed uma lista manuscrita com as taxas de juro de vários bancos centrais, incluindo comentários como “a taxa dos EUA devia estar entre os 0,5% do Japão e os 1,75% da Dinamarca”, acusando Powell de estar “como sempre, atrasado”.
No mercado cambial, o dólar manteve-se em 0,7906 francos suíços, após ter caído até 0,7873 na sessão anterior. Frente ao euro, a divisa norte-americana fixou-se em $1,1802, próxima do pico de $1,1829. Contra a libra esterlina, o dólar recuou para $1,37435, o valor mais baixo desde Outubro de 2021.
Apenas contra o iene japonês o dólar conseguiu alguma recuperação, subindo 0,1% para 143,59 ienes, após ter registado uma queda de 0,4% na sessão anterior.
Num contexto em que a política monetária da Fed se mostra cada vez mais condicionada por factores externos e pressões internas, e em que a sustentabilidade fiscal dos EUA é novamente colocada em causa, os mercados cambiais permanecem atentos ao próximo movimento da autoridade monetária norte-americana e à evolução da tensão política em Washington.
Fonte: O Económico