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O dólar norte-americano aproxima-se dos níveis mais baixos em três anos e meio, pressionado por crescentes apostas em cortes das taxas de juro pela Reserva Federal. A possibilidade de uma substituição antecipada do presidente da Fed, Jerome Powell, por um perfil mais dovish agrava o pessimismo cambial. A moeda tem registado perdas acentuadas face ao euro, libra e outras divisas-chave.
Na sessão de sexta-feira, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda face a seis principais divisas — recuou para os 97,398 pontos, o valor mais baixo desde Março de 2022. A desvalorização mensal aponta para uma queda de 2% em Junho, marcando o sexto mês consecutivo de perdas. Desde o início do ano, o dólar já caiu cerca de 10%.
As expectativas de flexibilização monetária intensificaram-se com a crescente especulação de que o Presidente Donald Trump poderá nomear um novo presidente para a Reserva Federal antes do fim oficial do mandato de Jerome Powell, que expira em Maio de 2026. Analistas, como Carol Kong, do Commonwealth Bank of Australia, alertam que essa antecipação poderá reduzir a influência de Powell e aumentar as apostas de cortes agressivos na taxa de juro, com 64 pontos base de afrouxamento agora precificados para 2025, acima dos 46 pontos esperados anteriormente.
Apesar de fontes da Casa Branca indicarem que a substituição ainda não está iminente, o discurso político contínuo de Trump — que tem criticado Powell e pedido cortes — alimenta dúvidas sobre a independência da Fed.
O euro registou uma ligeira correcção para $1,1688 após ter atingido $1,1745 na sessão anterior, o valor mais alto desde Setembro de 2021. A libra esterlina manteve-se em alta, cotando-se a $1,3725, perto dos picos de Outubro de 2021.
Outras moedas também ganharam força com o enfraquecimento do dólar. O dólar australiano atingiu o seu ponto mais alto em sete meses ($0,6564), enquanto o dólar taiwanês alcançou o nível mais elevado desde Abril de 2022.
Paralelamente, o mercado acompanha com atenção o prazo de 9 de Julho para a entrada em vigor das tarifas “recíprocas” impostas por Trump, que podem afectar as dinâmicas comerciais globais. A chanceler alemã Friedrich Merz instou a União Europeia a negociar um acordo “rápido e simples” com os EUA, enquanto Washington confirmou um entendimento com Pequim sobre o envio de terras raras para o mercado norte-americano.
O dólar enfrenta um momento delicado, num cruzamento entre decisões de política monetária, incerteza política interna e pressões comerciais externas. O enfraquecimento sustentado da moeda poderá alterar fluxos financeiros globais, beneficiar mercados emergentes e ampliar a pressão competitiva sobre as exportações norte-americanas. Resta saber até que ponto o sistema financeiro global poderá absorver as flutuações num contexto de tensões geopolíticas e transições institucionais.
Fonte: O Económico