O dólar norte-americano registou novas oscilações esta terça-feira, perdendo terreno para o yen japonês, que se afirmou como a moeda preferida dos investidores em meio a temores de uma desaceleração económica nos Estados Unidos. A incerteza sobre o impacto das tarifas comerciais impostas pelo governo norte-americano tem pressionado os mercados financeiros, levando a uma forte procura por activos considerados mais seguros.
O yen atingiu um pico de cinco meses, negociando a 146,625 por dólar, antes de se estabilizar em 146,85. A procura pela moeda japonesa reflete um ambiente de aversão ao risco, exacerbado pela queda das bolsas norte-americanas. O Nasdaq caiu 4% e o S&P 500 recuou 2,7% numa sessão marcada por elevados receios quanto ao crescimento económico dos EUA.
Moedas Globais e Reacção dos Mercados
Enquanto o yen se fortaleceu, os movimentos noutras moedas foram mais moderados. O dólar australiano, considerado uma moeda sensível ao risco, registou uma leve queda de 0,4%, sendo negociado a 0,6272 dólares norte-americanos. A libra esterlina manteve-se acima da sua média móvel de 200 dias, a 1,2875 dólares, e o euro permaneceu estável ligeiramente acima de 1,08 dólares.
Outras moedas, como o dólar canadiano e o peso mexicano, sofreram desvalorizações modestas, uma vez que os seus mercados de exportação são directamente afectados pelas tarifas impostas pelos EUA. O dólar canadiano permaneceu próximo de 1,44 por dólar, enquanto o peso mexicano foi negociado a 20,34 por dólar. Por outro lado, o yuan chinês manteve-se estável em 7,26 por dólar no mercado offshore.
O comportamento do mercado cambial tem intrigado analistas, visto que, historicamente, o dólar tende a valorizar-se em momentos de elevada volatilidade. No entanto, como explicou Chris Weston, chefe de pesquisa da corretora Pepperstone em Melbourne, “quando a economia e o mercado de acções dos EUA são o foco da preocupação, o atractivo do dólar é limitado”.
Factores por Detrás da Incerteza Cambial
A turbulência nos mercados accionistas foi intensificada por uma entrevista do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, à Fox News, onde mencionou que o país poderia entrar num “período de transição” sem indicar se as tarifas comerciais poderiam desencadear uma recessão. Os investidores reagiram negativamente às declarações, reforçando a venda de activos de risco e aumentando a procura por opções mais seguras, como o yen e os títulos do tesouro dos EUA.
Na última semana, o índice do dólar sofreu a sua maior queda em mais de dois anos, à medida que os rendimentos dos títulos norte-americanos caíram e o euro subiu devido a planos da Alemanha para reformar o seu travão ao endividamento.
O estrategista do Bank of Singapore, Sim Moh Siong, destacou que o mercado ainda está indeciso sobre o futuro do dólar. “Não se sabe se a perda de protagonismo dos EUA continuará a prejudicar o dólar ou se este, como activo de refúgio, acabará por se beneficiar da incerteza global”, afirmou.
Impacto nos Títulos e Perspectivas Futuras
O mercado de obrigações dos EUA registou um forte movimento de compra, empurrando os rendimentos para baixo num momento em que os retornos das dívidas soberanas de outros países continuam a subir. Na última semana, o diferencial entre os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA a 10 anos e os títulos alemães encolheu 33 pontos-base, enquanto a diferença entre os rendimentos dos títulos dos EUA e os japoneses diminuiu 17 pontos-base.
Apesar da incerteza, o yen permanece como um dos principais beneficiários do clima de aversão ao risco. A evolução dos mercados cambiais dependerá agora da trajectória da política comercial dos EUA e da capacidade do dólar de recuperar a sua posição como activo de refúgio em momentos de volatilidade.
A recente fraqueza do dólar reflecte um cenário de incerteza em relação à economia norte-americana, exacerbado pelas disputas comerciais e pelo impacto das tarifas. O fortalecimento do yen confirma a procura global por activos considerados mais seguros, enquanto o mercado aguarda novos desdobramentos na política económica dos EUA. O comportamento dos investidores nos próximos dias poderá determinar se a tendência de desvalorização do dólar se consolidará ou se o mercado voltará a vê-lo como um refúgio seguro.
Fonte: O Económico
