No mês passado, um episódio chocante ocorrido numa escola reacendeu o debate sobre os limites da educação e a responsabilidade compartilhada na formação de crianças e adolescentes. Uma criança levou para a escola uma faca com a intenção de esfaquear a sua professora. O ataque foi evitado graças à rápida intervenção dos colegas, que denunciaram a intenção da criança. Apesar do desfecho sem vítimas, o caso expõe uma crise profunda que ultrapassa os muros da escola.
Desta feita, não é um caso isolado. Têm-se tornado cada vez mais frequentes as notícias de agressões físicas e verbais contra professores por parte de alunos. Soma-se a isso o consumo precoce de bebidas alcoólicas entre menores e, de forma igualmente alarmante, situações de actividade sexual entre crianças, muitas vezes em contextos públicos ou sob o olhar indiferente dos adultos.
Assim sendo, a educação escolar tem como missão primordial a transmissão de conhecimentos, competências cognitivas e sociais. No entanto, há limites para o que a escola pode e deve fazer sozinha. A chamada educação caseira, aquela que é construída no seio familiar, é a base onde se desenvolvem os valores, o respeito, os limites e a responsabilidade. Quando esta base é frágil ou ausente, dificilmente a escola conseguirá, por si só, formar cidadãos íntegros.
Em complemento, nos tempos de outrora, a educação de uma criança era vista como uma responsabilidade comunitária. Era comum que vizinhos, adultos e figuras respeitadas da comunidade corrigissem uma criança quando esta se portava mal, independentemente de serem ou não seus parentes. Esse envolvimento colectivo funcionava como uma rede de apoio que reforçava os valores sociais e estabelecia limites claros. Contudo, com o passar dos anos, essa prática foi desaparecendo.
Portanto, a verdade é que a tarefa de educar não pertence apenas à escola, nem exclusivamente à família. Educar é, também, um dever da sociedade como um todo. Governos, comunidades, igrejas, organizações sociais e meios de comunicação desempenham papéis decisivos neste processo. Quando cada um cumpre o seu papel, cria-se um ambiente onde a criança é acompanhada, orientada e, quando necessário, corrigida.
Em vez de acusações, não se trata de encontrar culpados, mas de assumir responsabilidades. Pois, educar não é um acto solitário. É uma missão colectiva.
Perante este cenário, é inevitável perguntar: onde está a falhar a educação?