Entrada OXRG na Área 4: Moçambique reforça atractividade no xadrez global do GNL

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Com a conclusão da aquisição, no final de Março, da participação de 10% da Galp na Área 4 da Bacia do Rovuma, a empresa XRG, subsidiária da gigante ADNOC dos Emirados Árabes Unidos, oficializa a sua entrada no mercado moçambicano de gás natural liquefeito (GNL), reforçando um movimento que reflecte o reposicionamento estratégico do Médio Oriente face à nova geopolítica energética global.

A transacção — tornada pública em Maio de 2024, mas apenas finalizada agora — abrange participações nos três grandes pilares da Área 4: o projecto Coral Sul FLNG, já em produção; o Coral Norte FLNG, em vias de aprovação final de investimento (FID); e o projecto Rovuma LNG, em desenvolvimento onshore sob liderança da ExxonMobil. Estes projectos representam um potencial combinado de produção superior a 25 milhões de toneladas por ano (mtpa) de GNL.

XRG: capital árabe a consolidar influência energética

A entrada da XRG na Área 4 tem uma carga estratégica particular. A ADNOC, através da sua subsidiária XRG, vem reforçando agressivamente a sua presença em activos de gás em mercados-chave como Azerbaijão, Egipto, EUA e agora Moçambique. Com esta aquisição, a ADNOC junta-se às supermajors Eni e ExxonMobil, num consórcio que passou a incorporar o capital soberano dos EAU.

“A Bacia do Rovuma constitui um dos activos energéticos mais relevantes do século XXI. Este é um investimento que conjuga segurança energética, retorno financeiro e transição para uma energia mais limpa”, declarou Khaled Salmeen, Director de Operações da XRG.

A operação é também reveladora da procura crescente, sobretudo por parte da Europa e da Ásia, por fontes alternativas de gás natural face à descontinuidade dos fluxos da Rússia, num contexto de reconfiguração das cadeias de abastecimento globais. Moçambique, com as suas reservas massivas e projectos avançados de GNL, assume cada vez mais um papel de actor estratégico neste realinhamento.

Coral Sul, Coral Norte e Rovuma LNG: três frentes complementares

O Coral Sul FLNG, liderado pela Eni, é já uma realidade operacional, com uma capacidade anual de 3,5 mtpa e destaque mundial como o segundo maior navio de GNL flutuante. A sua execução, num ambiente técnico e geopolítico complexo, reforçou a credibilidade de Moçambique como destino de investimentos estruturantes.

O Coral Norte FLNG, de características semelhantes, aguarda FID e deverá duplicar a capacidade de produção offshore. A Eni mantém a liderança técnica e operacional destes dois projectos, com reputação consolidada em ambientes africanos.

O Rovuma LNG surge como o projecto de maior escala, com uma capacidade prevista de 18 mtpa e forte enfoque na eficiência energética e redução da intensidade carbónica, através de um sistema de accionamento eléctrico modular — uma inovação que pode estabelecer novos padrões no sector.

Este último projecto, liderado pela ExxonMobil, encontra-se na fase FEED, com conclusão esperada ainda este ano. A decisão final de investimento será o próximo grande sinal de confiança no potencial de Moçambique.

Área 1: Índia reentra em cena com reforço de financiamento

Noutro desenvolvimento relevante e recente, o braço internacional da ONGC da Índia (ONGC Videsh) autorizou um reforço de capital na ordem dos 1.500 milhões de rupias na sua participação na Área 1 offshore, também na Bacia do Rovuma. Este movimento sinaliza a intenção de retomar operações e acelerar a recuperação do projecto, actualmente sob força maior desde 2021, devido à insegurança em Cabo Delgado.

A Índia, através da OVL, BREML e BPRL Ventures, detém em conjunto 30% da Área 1. A TotalEnergies lidera o consórcio (26,5%), sendo que a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) representa o Estado moçambicano com 15%. As estimativas apontam para 75 triliões de pés cúbicos de gás recuperável nesta concessão, o que reforça o seu valor estratégico.

Com o investimento adicional, a OVL não só reforça a sua exposição a este activo, como também aprofunda a sua posição nas cadeias de fornecimento energético do Índico, consideradas vitais para a segurança energética da Índia.

Moçambique: entre o investimento e o desafio institucional

Estes desenvolvimentos recentes confirmam que Moçambique permanece no radar das grandes energéticas globais, mesmo num contexto de desafios de segurança e de incertezas regulatórias. O posicionamento do país como plataforma de exportação de GNL depende agora de:

Do lado da governação, o envolvimento directo do Estado através da ENH, e a necessidade de garantir retorno para a economia nacional, serão temas centrais à medida que estes projectos avancem. A articulação entre os interesses públicos e privados, e a materialização do impacto socioeconómico real, continuará sob forte escrutínio.

Fonte: O Económico

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