O encontro entre os Presidentes da China e da Rússia, Xi Jinping e Vladimir Putin, e o Primeiro-Ministro da Índia, Narendra Modi, à margem da cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), em Tianjin, ganhou destaque mundial, com imagens de proximidade entre os três líderes a circularem em larga escala. Por detrás dos sorrisos, contudo, permanecem rivalidades históricas e interesses divergentes, ainda que a retórica dominante aponte para uma cooperação reforçada entre as maiores potências do “Sul Global”.
A cimeira da SCO, que reuniu mais de 20 líderes mundiais e cuja edição de 2025 é a maior desde a fundação em 2001, serviu de palco a um raro encontro tripartido entre Modi, Xi e Putin. O momento foi marcado por uma fotografia viral em que os três aparecem a rir em conjunto — gesto interpretado por analistas como um sinal simbólico de unidade, mas também como tentativa de mascarar tensões latentes.
A Índia e a China continuam separadas por uma disputa fronteiriça não resolvida desde os confrontos de 2020, enquanto a aproximação estratégica de Pequim a Islamabad complica qualquer reconciliação plena com Nova Deli. Ainda assim, Modi destacou que existe hoje “um ambiente de paz e estabilidade” na relação bilateral, ao passo que Xi insistiu que os dois países “devem ser parceiros e não rivais”.
No plano diplomático, a reunião decorreu em simultâneo com a escalada de tarifas impostas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, que penalizou a Índia pela compra contínua de petróleo russo. Nova Deli, sob pressão, aproveitou a ocasião para mostrar opções estratégicas alternativas, mantendo diálogo com Pequim e Moscovo sem abandonar os seus laços com Washington e aliados no Indo-Pacífico.
A presença de Putin, recebido com honras em Tianjin, reforçou a intenção de Moscovo em ganhar visibilidade internacional e consolidar o seu espaço no eixo multipolar. Para a China, a SCO é usada como plataforma para reafirmar a sua liderança junto do “Sul Global”, contrastando com a instabilidade provocada pelas políticas comerciais de Trump.
Apesar da projecção política, analistas recordam que a SCO, embora congregue quase metade da população mundial, tem tido impacto limitado nos grandes conflitos globais, como a guerra na Ucrânia ou as tensões no Médio Oriente. A sua relevância é sobretudo simbólica, servindo de fórum para reivindicações conjuntas contra a hegemonia ocidental e para exibir a narrativa da multipolaridade.
Para a Índia, a participação revestiu-se de um equilíbrio delicado: ao mesmo tempo que Modi reafirmava abertura a Moscovo e Pequim, a sua rápida partida para reuniões com parceiros dos EUA no Japão reforçou os limites da aproximação. “A Índia está a usar a SCO para enviar sinais estratégicos a Washington, mas mantém as suas prioridades alinhadas com o Indo-Pacífico”, observou Jeremy Chan, analista da Eurasia Group.
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p style=”margin-top: 0in; text-align: justify; background-image: initial; background-position: initial; background-size: initial; background-repeat: initial; background-attachment: initial;”>No final, a cimeira revelou mais sobre a gestão de percepções e de equilíbrios estratégicos do que sobre decisões concretas. Entre sorrisos partilhados e discursos sobre amizade e cooperação, permanecem intocados os dilemas da rivalidade sino-indiana, da guerra em curso da Rússia e da pressão tarifária dos EUA.
Fonte: O Económico