ENTREVISTA A BOLA Patrícia Sampaio: «Quero ser campeã do Mundo e conseguir o meu dorsal vermelho»

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Patrícia Sampaio: «Quero ser campeã do Mundo e conseguir o meu dorsal vermelho»

PARTE 2 – Judoca fez questão de pagar a ida a Paris do seu jovem, 14 anos, parceiro de treino no Gualdim Pais. Depois do ouro, a Torre Eiffel a brilhar e um crepe de chocolate. Garante que a via não mudou muito depois do bronze olímpico: mora na mesma casa, a família continua igual e os amigos são os mesmo. Até a euforia das pessoas na rua acalmou e ela prefere assim.

— Vi que, depois de ter subido ao pódio e dado as entrevistas, levou a medalha a passear até à Torre Eiffel. Sentiu essa necessidade?

— Tive cá o meu parceiro de treino do clube [Gualdim Pais] e os pais dele a ver a competição. Antes de sairmos de Tomar já havíamos combinado que, domingo, corresse como corresse a prova, iríamos passear todos juntos à Torre Eiffel. E tendo eu ganho em Paris, tive de levar a medalha para tirar fotografias. Depois, estava a ver a Torre Eiffel toda brilhante e aproveitei tirei fotos com a medalha e a torre.

— Mas sentiu, por exemplo, ao contrário de outras provas, que aquela noite tinha de ser para festejar? Não foi só vencer, era mesmo uma prova especial?

— Não, foi fazer literalmente o que tínhamos combinado antes de sairmos de Portugal. Eu e eles, que são também do clube, havíamos combinado que, no domingo à noite, esperando que fosse o mais tarde possível — diziam que iria ser tarde porque eu estaria no pódio — íamos visitar a Torre. Avisei que o melhor era comprarem o bilhete de avião para domingo à noite, ao que me responderam: ‘Não, não, depois não dá tempo de ver a tua final, por isso compramos para segunda-feira’. Respondi que estava bem, iríamos todos ver a Torre Eiffel, até porque nunca tinham vindo a Paris, e depois comer um crepe de chocolate. Como acabou por correr muito bem, fomos todos à Torre e depois comemos um crepe.

— Quando ganhou a final [contra a israelita Inbar Laker, prata nos Jogos de Paris e campeã mundial em 2023], celebrou levantando os braços e depois fez aquele gesto com as mãos por baixo da cara. Muita gente pensou que era uma espécie de enquadramento engraçado para as fotografias, só que, afinal, era um V e tinha uma mensagem para alguém na bancada. Quer contar essa história?

— Sim, era para aquele miúdo que depois fui abraçar e que, como disse, é o meu parceiro de treino. Chama-se Vicente. Há uns meses tinha falado com os pais dele e contado que gostava de lhe oferecer o bilhete do Grand Slam de Paris para ele vir ver. Só que, como só tem 14 anos — mas o meu tamanho —, o Igor ou eles tinham de ir com ele. Organizaram-se e trataram dos bilhetes de avião, estadia e da prova e eu ofereci a entrada ao Vicente. Afinal, trata-se do meu parceiro de treino e é fanático por judo. Já treina tanto como eu. Como sabia que também desejava ver todas aquelas caras conhecidas que acompanha pelo telemóvel, ofereci-lhe o bilhete. No sábado, após as pesagens, ainda nos encontramos e prometi-lhe: ‘Se ganhar vou dedicar-te a vitória, só que se fizer um V com a mão vai parecer um dois e vão achar que estou a dizer que ganhei duas vezes, o que nunca aconteceu. Tínhamos de encontrar outra solução, chegámos a esta de fazer um V daquela maneira. ‘Vou fazer um V assim e vais saber que é para ti’. Mas, obviamente, ninguém entendeu o que era. No entanto ele percebeu, que era o que importava.

— E depois o Vicente desceu as bancadas e aquele abraço entre os dois tornou-se especial?

—  Sim, bastante especial. O Vicente é como se fosse o meu irmão mais novo. É muito especial.

— Espera, daqui a alguns anos, estar a competir em Paris e o Vicente também?

— Sinceramente, gostava muito. 2028 já é muito próximo, mas as nossas intenções é que isso aconteça. Até já lhe disse, em tom de brincadeira, que gostava de o levar como training partner aos próximos jogos [Los Angeles-2028]. Só que ainda faltam três anos e não dá para falar disso agora. De qualquer forma, é um objetivo, um sonho que temos. Desejo que não venha a ser a única do clube a andar no Circuito Mundial e estar a este nível competitivo. Quero muito que aqueles que treinam conosco atinjam também este patamar. Puxo muito o Vicente nesse sentido.

— E ele quer ser um judoca de elite como a Patrícia?

— Sim, sim… Agora, com os seus 14/15 anos diz que sim [risos].

— Pois, mais para a frente vai ser duro, não é?

— É verdade, mas ele sabe. Disse-lhe: ‘Olha Vicente, também te trouxe para veres de perto como é que é este mundo’. Ele gostou muito da experiência.

— E agora, que começou o Circuito Mundial 2025 em Paris, quais são os objetivos para esta temporada?

— Treinar sem lesões graves, se for possível. Até agora tem estado tudo a correr bem — vou bater na madeira para continuar assim. Mas, acima de tudo, quero continuar a ter alguma consistência nas medalhas, ou pelo menos na luta pelos pódios. Em termos de objetivos de resultados, estou a trabalhar para tentar conquistar uma medalha no Europeu e outra no Mundial. Para este ano é esse o principal foco.

— Estamos a seis meses de ter ganho a medalha de bronze nos Jogos de Paris, por isso agora permite que já veja as coisas com outra perspectiva. A sua vida mudou muito nestes últimos seis meses?

— Não, nem por isso [risos]. Moro no mesmo sítio, a família está toda igual, os amigos são os mesmos… Já passou aquela febre do momento das pessoas me verem na rua e andarem a tirar fotos, a dizer olá. Agora está tudo mais tranquilo. Voltou tudo ao normal.

— Mas, as pessoas continuam a reconhecê-la na rua?

— Sim, mas já não é aquela loucura, é tudo mais tranquilo.

— Este período que está a viver, de um reconhecimento pelo que fez e faz, agrada-lhe? Afinal é uma judoca e não um futebolista. Ajuda a que todo esse investimento que faz na carreira e a dureza de treinos, pelo menos, bidiários, musculação e as lesões que tem passado… Gosta de ser reconhecida na rua, até porque não é uma pessoa que aprecie particularmente de dar nas vistas?

— Sim, como é agora, gosto. É um reconhecimento moderado e mais no mundo do desporto. Também porque apareci na televisão, fui a programas… E como é muito mais pelas crianças e jovens, isso agrada-me. Gosto de ver que posso ser uma referência para os mais novos. Dessa parte sim, gosto. Antes, nas primeiras semanas [depois dos Jogos] foi tudo muito intenso. Mas, depois fui-me habituando e as coisas também foram acalmando. Neste momento, lido bem com isso.

— Ganhou o Grand Slam de Paris. Se pudesse escolher uma prova, qual seria a próxima que gostaria de vencer?

— A próxima em que lutar… Vou a todas as competições com o objetivo e ambição de ganhar. Mas se este ano tivesse de escolher alguma, era ser campeã do mundo e conseguir o meu dorsal vermelho [apenas atribuído aos campeões em título]. Mas se puder ir a todas e vencê-las, ainda melhor.

Fonte: A Bola

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