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EUA e China acordam suspensão parcial de tarifas por 90 dias, mas as divergências estruturais continuam a assombrar a confiança dos investidores

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As bolsas mundiais registaram fortes ganhos após os Estados Unidos e a China acordarem, em Genebra, uma suspensão parcial das tarifas por um período de 90 dias, interrompendo uma guerra comercial que paralisou cerca de 600 mil milhões de dólares em comércio bilateral e gerou receios de recessão global.

Num raro momento de convergência, os Estados Unidos e a China anunciaram uma trégua comercial de 90 dias, acompanhada de cortes drásticos nas tarifas que vinham a penalizar o comércio bilateral desde o regresso de Donald Trump à Casa Branca. O acordo, alcançado em Genebra, visa aliviar temporariamente as tensões num contexto de crescente instabilidade económica global.

Durante este período, Washington compromete-se a reduzir as tarifas adicionais de 145% para 30% sobre produtos chineses, enquanto Pequim reduzirá as suas tarifas de 125% para 10%. A China, adicionalmente, suspenderá medidas retaliatórias, incluindo restrições à exportação de minerais raros e ímanes essenciais à indústria de alta tecnologia.

Apesar da reacção eufórica dos mercados – com o S&P 500 a atingir o seu nível mais alto desde 3 de Março e o Nasdaq a encerrar no topo desde Fevereiro – os analistas continuam céticos quanto à sustentabilidade do alívio. “Trata-se de uma pausa, não de uma solução”, afirmou Scott Kennedy, especialista em relações económicas sino-americanas, sublinhando que a iniciativa representa mais um recuo táctico dos EUA do que uma cedência chinesa.

O próprio Secretário do Tesouro, Scott Bessent, arquitecto da trégua e ex-executivo de um fundo de investimento, admitiu que será necessário “muito mais tempo para redefinir a relação comercial com Pequim”. Ainda assim, saudou o consenso alcançado, que segundo ele revela que “nenhuma das partes quer uma ruptura”. Bessent considera o novo fórum económico bilateral uma oportunidade para construir um comércio mais equilibrado.

Donald Trump, por sua vez, interpretou o acordo como uma vitória da sua política de tarifas agressivas, garantindo que “a China vai abrir-se completamente” e que o resultado será “fantástico” para ambas as economias.

Contudo, nem todos partilham do entusiasmo da Casa Branca. Grupos empresariais e consumidores norte-americanos continuam preocupados com o impacto de tarifas ainda elevadas, nomeadamente sobre bens de consumo. Pequenas empresas e transportadoras alertam para os custos logísticos, enquanto o fim das isenções para remessas de baixo valor oriundas da China e Hong Kong agrava as incertezas no comércio electrónico.

No terreno, o sector do retalho permanece prudente. Gene Seroka, director executivo do porto de Los Angeles, advertiu que os 30% de tarifas ainda em vigor podem travar a recuperação. “Todos querem previsibilidade e isso tem faltado”, disse Mike Abt, co-presidente da Abt Electronics, em Chicago.

O acordo também deixa intactas tarifas herdadas da administração Biden, nomeadamente os 100% sobre veículos eléctricos e 50% sobre painéis solares. A estrutura tarifária permanece, portanto, fragmentada e volátil.

Para já, o que se sabe é que a próxima ronda de negociações ainda não tem data marcada, mas ambas as delegações reafirmaram o compromisso de prosseguir os contactos. Entre as motivações do lado norte-americano continua a pesar a promessa eleitoral de Trump de reindustrializar o país e travar práticas comerciais que considera “injustas”, ligadas a subsídios chineses e alegado agravamento da crise dos opiáceos.

A suspensão da guerra comercial poderá evitar uma recessão imediata, mas não elimina o risco de uma escalada futura. A estabilidade dos mercados continuará a depender da consistência dos sinais políticos e da capacidade das duas potências em transformarem tréguas em soluções duradouras.

Fonte: O Económico

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