Os custos com a importação de combustíveis em Moçambique atingiram níveis recorde em 2024, ultrapassando 1.800 milhões de euros em apenas nove meses. Este valor supera os gastos registados em todo o ano de 2023, que totalizaram 1.417 milhões de dólares, e aproxima-se dos níveis de 2022, marcados por perturbações no mercado global.
Segundo o relatório estatístico do Banco de Moçambique, no primeiro trimestre de 2024, o custo das importações foi de 301 milhões de dólares, aumentando para 621,1 milhões no segundo trimestre e alcançando 935,9 milhões no terceiro. Este aumento reflete tanto a subida nos preços do petróleo no mercado internacional como o crescimento da procura interna.
Alterações na política de comparticipação
Em 2023, o Banco de Moçambique anunciou que deixaria de comparticipar as facturas de importação de combustíveis, transferindo esta responsabilidade para os bancos comerciais. Esta política, implementada desde 2005, havia sido essencial para suportar os elevados custos associados às importações. Silvina de Abreu, administradora do banco central, explicou que a fragmentação das facturas tornou a transição possível, permitindo a entrada de bancos de menor dimensão no mercado.
Concurso Internacional da IMOPETRO
Para assegurar o fornecimento contínuo de combustíveis, a Importadora Moçambicana de Petróleos (IMOPETRO) lançou um concurso internacional para a aquisição de 575 mil toneladas métricas de produtos refinados. O lote inclui gasolina, gasóleo e gás de petróleo liquefeito (GPL), que serão descarregados nos portos de Maputo, Beira, Nacala e Pemba. Miceles Miambo, da IMOPETRO, afirmou que o objectivo é garantir a disponibilidade de recursos a partir de Março de 2025.
A estratégia da IMOPETRO visa não apenas estabilizar o abastecimento, mas também mitigar os impactos das flutuações no mercado internacional. Raul Santos, Director Executivo da IMOPETRO, enfatizou que a prioridade é assegurar o fornecimento mesmo em cenários adversos, enquanto Silvino Moreno, ministro da Indústria e Comércio, destacou a importância de políticas que garantam competitividade económica e sustentabilidade para os negócios locais.
Impacto económico e desafios para o futuro
O aumento da factura de combustíveis representa um desafio significativo para a balança comercial e as reservas cambiais de Moçambique. Em 2022, o país importou 1,8 milhões de toneladas métricas de combustíveis, a um custo de cerca de 2 mil milhões de dólares, mais do que o dobro do gasto em 2021. Factores como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e a recuperação económica pós-pandemia têm exercido uma pressão adicional sobre os preços globais.
Agostinho Vuma, Presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), sublinhou que a estabilidade no fornecimento é crucial para criar um ambiente empresarial favorável e atrair investimentos. Ele apontou que medidas estratégicas, como a diversificação de fornecedores e a centralização de importações, são essenciais para reduzir a vulnerabilidade económica do país.
O concurso internacional da IMOPETRO representa uma tentativa estratégica de mitigar os efeitos das variações globais no preço do petróleo e garantir a segurança energética de Moçambique. Contudo, o sucesso dessa iniciativa dependerá de uma adaptação eficiente às dinâmicas do mercado internacional e da implementação de políticas internas que promovam a sustentabilidade económica e energética no longo prazo.
Fonte: O Económico