A agência de notação financeira Fitch Ratings rebaixou o rating de crédito soberano de Moçambique para CCC, apontando riscos significativos para a economia do país. A decisão surge no contexto da instabilidade política pós-eleitoral e das dificuldades financeiras que o Governo enfrenta para conter o défice orçamental e a dívida pública.
Impacto dos Protestos Pós-Eleitorais
A Fitch justifica a descida do rating com os efeitos das manifestações e da tensão política registada nos últimos meses, que resultaram na destruição de propriedade, interrupções na cadeia de abastecimento e perda de confiança no ambiente de negócios. Estas perturbações afetaram diretamente a economia, levando a agência a rever em baixa a previsão de crescimento do PIB para 3,2% em 2025, contra os 4% inicialmente projetados.
O défice orçamental, que aumentou para 6,5% do PIB em 2024, deverá reduzir-se para 4,4% em 2025, mas a Fitch alerta que a grande despesa com salários na função pública continuará a ser um dos principais desafios do novo Governo.
Endividamento e Dificuldades Financeiras
Outro fator preocupante é o peso da dívida pública, que atingiu 93,8% do PIB em 2024. A previsão inicial da Fitch indicava uma redução para 89,9% até 2026, mas agora estima-se que a dívida cairá apenas para 93,4% no mesmo período, refletindo os desafios na arrecadação de receitas e na contenção de despesas.
Os analistas da Fitch destacam que os riscos no serviço da dívida interna permanecem elevados, especialmente num cenário de restrições orçamentais e incertezas sobre a disponibilidade de divisas estrangeiras. Além disso, os projetos de gás natural, que poderiam impulsionar a economia, continuam num estado de indefinição devido às condições políticas e ao ambiente de negócios instável.
Preocupações com o Investimento e a Recuperação Económica
A deterioração das condições macroeconómicas também afeta a atratividade do país para investidores. A Fitch alerta que o prolongamento da instabilidade pode afetar os investimentos de longo prazo, principalmente em setores estratégicos como energia e infraestrutura.
O governo moçambicano precisará implementar medidas rigorosas para restaurar a confiança dos mercados e estabilizar a economia. O reforço da política fiscal, a busca por financiamento externo em condições mais favoráveis e a melhoria do ambiente de negócios são algumas das estratégias recomendadas por especialistas para mitigar os efeitos do rebaixamento da notação de crédito.
O rebaixamento do rating de Moçambique para CCC sinaliza desafios significativos para a economia, especialmente no que diz respeito à sustentabilidade da dívida e à recuperação do crescimento. Com um ambiente político volátil e dificuldades estruturais persistentes, as perspetivas económicas do país continuam incertas, exigindo respostas rápidas e eficazes para evitar um agravamento da crise financeira.
Fonte: O Económico