FMI Alerta Para Aumento das Vulnerabilidades no Sistema Financeiro Global

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Num contexto de crescente incerteza económica e instabilidade geopolítica, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que os riscos à estabilidade financeira global aumentaram substancialmente, com destaque para a interligação crescente entre bancos e instituições financeiras não-bancárias (NBFIs), o elevado endividamento soberano e a sobrevalorização de activos em mercados cada vez mais concentrados.


O relatório, publicado em Abril de 2025, assinala que os mercados de capitais, embora fundamentais para o crescimento económico, encontram-se actualmente pressionados por condições financeiras mais apertadas, elevadas tensões comerciais e riscos geopolíticos persistentes. A capitalização bolsista global tornou-se mais concentrada — com os Estados Unidos a representarem cerca de 55% do mercado de acções mundial — ao mesmo tempo que os preços de alguns activos permanecem inflacionados, apesar das recentes correcções.

Outro ponto crítico reside no crescimento acelerado das instituições não-bancárias, como fundos de cobertura e entidades de crédito privado, que têm vindo a assumir um papel cada vez mais activo no financiamento da economia desde 2008. Este fenómeno, embora positivo em termos de diversificação da intermediação financeira, implica riscos de contágio em caso de choques, dada a crescente dependência destas entidades do crédito bancário tradicional.

O FMI observa que, nos Estados Unidos, os empréstimos das NBFIs representam já 120% do capital principal (Tier 1) dos bancos, evidenciando a dimensão do risco sistémico. Estratégias altamente alavancadas de alguns fundos podem precipitar liquidações forçadas em períodos de volatilidade, com perdas directas para os bancos financiadores.

No segmento da dívida soberana, a situação não é mais animadora. A dívida pública global corresponde actualmente a 93% do PIB mundial, face a 78% há dez anos. Os custos de financiamento têm aumentado em termos reais e nominais, colocando sob pressão os mercados obrigacionistas, sobretudo nos países com dívida mais elevada. O relatório alerta que mercados emergentes enfrentam maior dificuldade em refinanciar a dívida e financiar políticas públicas adicionais, em resultado da subida dos spreads e da deterioração das condições de financiamento externo.

Para enfrentar estes riscos crescentes, o FMI recomenda uma actuação coordenada que combine prudência fiscal com uma arquitectura regulatória robusta. A consolidação orçamental deve ser orientada para o crescimento, assegurando ao mesmo tempo que os mercados obrigacionistas se mantêm líquidos e funcionais. No caso das economias avançadas, isso implica moderar os volumes de emissão de dívida e reforçar a capacidade dos intermediários financeiros, como bancos e operadores não-bancários, para absorver essa oferta.

Nos mercados emergentes, será crucial fortalecer os quadros institucionais de gestão da dívida pública, definir estratégias claras de emissão e amortização de títulos, calibrar adequadamente a composição cambial da dívida e fomentar a confiança dos investidores. O desenvolvimento de mercados domésticos para títulos públicos, bem como o reforço da presença de investidores institucionais locais, pode ser decisivo para reduzir custos de financiamento e atenuar pressões externas.

Do lado da supervisão financeira, é essencial melhorar os mecanismos de reporte e transparência das instituições não-bancárias, distinguindo entre as que oferecem intermediação saudável e aquelas cujos níveis de risco e governação são excessivos ou frágeis. O cumprimento rigoroso dos padrões de Basileia III e de outras normas internacionais de supervisão bancária continua a ser um pilar fundamental para preservar a resiliência do sistema.

O relatório conclui que, num ambiente de choques múltiplos, é indispensável reforçar a coordenação entre autoridades fiscais, monetárias e regulatórias. O sistema financeiro global só será verdadeiramente resiliente se for capaz de absorver perturbações sem amplificar instabilidades — uma meta que exige vigilância permanente, reformas estruturais e vontade política.

Fonte: O Económico

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