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O Fundo Monetário Internacional (FMI) lançou um apelo urgente à definição de um novo “compacto de crescimento” global. Face à estagnação da produtividade, ao impacto desigual da integração comercial e à incerteza geopolítica crescente, Pierre-Olivier Gourinchas defende reformas estruturais coordenadas para libertar o potencial de crescimento económico, com foco na inovação, na inclusão laboral e na reconfiguração inteligente do comércio global.
A Produtividade Como Gargalo
Gourinchas inicia o seu argumento com um diagnóstico claro: mais de metade da desaceleração do crescimento mundial desde a crise financeira global de 2008 está associada à queda na produtividade total dos factores (PTF).
Esta métrica reflecte a eficiência com que o capital e o trabalho são utilizados na economia, e representa o principal motor de crescimento sustentável de longo prazo.
“O copo pode parecer meio vazio, mas está meio cheio: a produtividade pode ser reavivada com reformas certas e uso estratégico das novas tecnologias”, sublinha o autor.
Reformas para Alocação Eficiente e Regulação Inteligente
O artigo defende que países com economias mais flexíveis — como os Estados Unidos — conseguiram uma melhor alocação de recursos para sectores mais inovadores, o que impulsionou a produtividade. Já em muitas economias emergentes e avançadas, as barreiras regulatórias e as restrições financeiras tornam-se travões ao crescimento.
A proposta não é liberalização desenfreada, mas regulação calibrada. Exemplo: o caso argentino de exportações de couro — onde regulações proteccionistas penalizaram exportações e agravaram défices externos — é ilustrativo dos riscos de políticas mal desenhadas.
Tecnologia e Inteligência Artificial: Risco ou Oportunidade?
O autor vê na inteligência artificial generativa uma nova fronteira de crescimento. O custo dos modelos caiu 10 vezes ao ano, e a sua capacidade de impulsionar a produtividade laboral ainda está em curso de definição.
“O impacto dependerá de como e até que ponto os trabalhadores e empresas se apropriam destas ferramentas”, escreve Gourinchas.
Contudo, há um alerta: a velocidade da transformação tecnológica pode gerar disrupções sociais significativas. Se mal geridas, estas alterações podem agravar desigualdades e provocar reacções políticas adversas.
Comércio Global e Fragmentação Geopolítica
Desde 1980, o comércio global multiplicou-se por cinco em termos reais. Contudo, o último ciclo geopolítico tem vindo a comprometer o modelo de integração, com novas barreiras comerciais, fragmentação tecnológica e disputas territoriais.
Apesar disso, o comércio tem demonstrado resiliência notável, graças a países “conectores” — como Vietname, México e Marrocos — que mantêm laços comerciais tanto com o Ocidente como com blocos liderados pela China.
“Esta adaptação contrasta com a lógica da Guerra Fria, em que a fragmentação foi muito mais rígida e os desvios comerciais mais limitados.”
Emergentes em Ascensão e Riscos de Fractura Global
Os mercados emergentes são hoje actores estruturais da economia global, fruto de reformas internas e maior integração. Mas, se a fragmentação se intensificar, as cadeias de abastecimento ficarão mais caras, ineficientes e vulneráveis a choques — um risco real para o crescimento global.
Recomendações Políticas: Mobilidade, Compensações e Cooperação
A revitalização do crescimento exige um pacto pragmático, com medidas concretas:
“A integração comercial e financeira só faz sentido se servir o emprego e a melhoria das condições de vida”, resume Gourinchas.
Num momento em que o mundo enfrenta simultaneamente tensões geopolíticas, incerteza tecnológica e crescimento frágil, o FMI propõe uma agenda estratégica assente num novo pacto global para o crescimento. A mensagem central é clara: crescer é possível, mas exige reformas inteligentes, cooperação renovada e coragem política para alinhar inovação com inclusão.
Fonte: O Económico