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A cimeira do G-7 em Kananaskis, Canadá, desenrola-se sob o peso de dois desafios prementes: a crescente vulnerabilidade ocidental face ao controlo chinês sobre minérios estratégicos e a deterioração da ordem internacional, com destaque para o conflito no Médio Oriente e a imprevisibilidade de Donald Trump. As divisões internas e a ausência de um comunicado final expõem um grupo à procura de novas âncoras de coesão num cenário global fragmentado.
Plano de Acção para Minérios Críticos: A Nova Frente Económica do G-7
O G-7, composto pelos Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e a União Europeia, aprovou uma proposta de plano de acção para diversificação e segurança do aprovisionamento de minérios críticos, essenciais para indústrias estratégicas como a tecnologia, a transição energética e a defesa.
Sem mencionar directamente a China — responsável por cerca de 70% da produção global de terras raras —, os líderes alertaram para “ameaças à segurança económica” associadas a práticas de mercado distorcidas. Entre as matérias-primas visadas estão o gálio, germânio, grafite e antimónio, já sujeitos a restrições por Pequim, e as terras raras, indispensáveis à produção de ímanes para turbinas e veículos eléctricos.
“Partilhamos interesses nacionais e económicos comuns, dependentes de cadeias de abastecimento resilientes, regidas por princípios de mercado”, refere o rascunho do comunicado. “Políticas não baseadas no mercado minam a capacidade de acesso a recursos vitais.”
O documento apela a investimentos urgentes e em larga escala em projectos mineiros “responsáveis”, e exorta os bancos multilaterais e o sector privado a alocarem capital adicional para iniciativas baseadas em normas ambientais e sociais exigentes.
Crise no Médio Oriente e Fantasma de Trump Marcam Cimeira
A tensão crescente entre Israel e o Irão, agravada por ataques aéreos mútuos, assumiu centralidade no encontro. O Primeiro-Ministro britânico, Keir Starmer, declarou esperar “discussões intensas”, depois de contactos com Trump e Netanyahu. O Reino Unido reforçou a presença militar na região, enquanto o Canadá optou por abandonar o tradicional comunicado conjunto, sinalizando prudência face à imprevisibilidade de Trump.
O antigo Primeiro-Ministro canadiano Jean Chrétien foi directo: “Se Trump decidir fazer um espectáculo, deixem-no e continuem a conversar normalmente. Ele tende a ser um bully.”
Trump Como Elemento Desestabilizador
Descrito como o “wild card” da cimeira, Trump continua a testar os limites da diplomacia multilateral. Às suas ameaças tarifárias, juntou-se recentemente a sugestão de tornar o Canadá o “51.º estado” dos EUA — uma provocação que gerou desconforto entre aliados históricos.
Líderes como Macron e Starmer tentam dialogar com o presidente norte-americano, mesmo sabendo que pouco têm colhido com essa aproximação. A cimeira poderá assim degenerar numa sucessão de reuniões bilaterais, em vez de um momento de unidade do bloco ocidental.
Zelenskyy, Ucrânia e o Teste ao Compromisso Colectivo
O Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy é esperado na cimeira, num esforço diplomático renovado para garantir o compromisso do G-7 com a defesa da Ucrânia, especialmente num cenário em que Trump regressa com força à cena internacional e manifesta reservas sobre o envolvimento norte-americano.
A Ucrânia e a questão energética, entrelaçadas na geopolítica dos minérios, das sanções e da segurança europeia, deverão ser discutidas numa tentativa de reconciliação entre as prioridades estratégicas dos EUA e dos seus parceiros europeus.
Conclusão: Um G-7 em Busca de Relevância Num Mundo Fraturado
O G-7 surge dividido, pressionado por conflitos regionais, desafios económicos e disputas comerciais internas. As prioridades — como a independência em matérias-primas críticas, a coordenação frente ao autoritarismo global e a transição energética — esbarram frequentemente na realidade de uma liderança americana errática e em divisões sobre o caminho a seguir.
Na ausência de um comunicado final, o mundo observa com cepticismo um grupo que, outrora pilar de estabilidade global, tenta reencontrar relevância e coesão num século XXI de novas potências, novas ameaças e velhas incertezas.
Fonte: O Económico