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A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) alertou para um risco iminente de desaceleração nas entregas de aeronaves, à medida que cresce a incerteza em torno da nova política tarifária dos EUA. O sector da aviação comercial poderá sofrer perturbações significativas, com consequências para fabricantes, fornecedores e companhias aéreas em todo o mundo.
Durante uma mesa-redonda com a imprensa em Singapura, o director-geral da IATA, Willie Walsh, advertiu que a possível imposição de tarifas sobre aviões e componentes aeroespaciais poderá levar companhias aéreas a recusar novas entregas, por receio de aumento de custos e instabilidade contratual.
“Não será apenas um problema importante para a Boeing e a Airbus. Isto afectará todos os aspectos da indústria aeroespacial e terá um impacto na maioria, se não em todas, as companhias aéreas”, declarou Walsh.
A inquietação surgiu após o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de que pretende aplicar uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, a partir de Agosto, com foco na indústria de aviação civil — uma medida vista como potencialmente disruptiva para os fluxos comerciais entre os dois países.
Embraer Alvo Directo: Cancelamentos e Embargo Comercial?
A Embraer, terceiro maior fabricante mundial de aeronaves, poderá estar entre os alvos principais da medida. O seu CEO, Francisco Gomes Neto, comparou o impacto potencial ao vivido durante a pandemia da COVID-19, referindo que a tarifa “equivaleria a um embargo comercial aos jactos regionais fornecidos às companhias aéreas americanas”.
“As consequências podem incluir cancelamentos de encomendas, atrasos nas entregas e sérias dificuldades para os nossos fornecedores nos EUA”, alertou Gomes Neto.
A empresa brasileira tem uma base sólida de clientes entre as companhias aéreas norte-americanas e integra cadeias de produção e fornecimento fortemente interdependentes com os EUA — o que agrava a exposição às medidas tarifárias unilaterais.
Indústria Aeroespacial em Alerta
O alerta da IATA amplia o tom de preocupação que já domina o sector da aviação, num contexto de recuperação ainda frágil pós-pandemia, inflação elevada e incertezas nas cadeias logísticas. A possibilidade de tarifas adicionais agrava o risco de paralisia temporária no planeamento de frotas e revisão de contratos de leasing.
Analistas apontam ainda para potenciais efeitos colaterais sobre o emprego qualificado, inovação tecnológica e investimentos em eficiência energética, numa altura em que o sector procura acelerar a transição para combustíveis sustentáveis e aeronaves mais eficientes.
A escalada tarifária impulsionada pelos Estados Unidos coloca um novo entrave à retoma e expansão da indústria da aviação comercial global. Entre a cautela dos compradores e a exposição dos fornecedores, a cadeia aeroespacial pode assistir a um recuo estratégico nas entregas e investimentos. A margem de manobra das empresas será tanto mais estreita quanto mais tempo persistirem a incerteza política e a ausência de soluções multilaterais.
Fonte: O Económico