Por: Sara Seda
Moçambique faz 50 anos de independência. Cinquenta! Meia-idade! E já anda cheio de dores: na economia, na saúde, na educação… e até na esperança. Mas celebramos! Afinal, somos livres. Livres para calar a boca, livres para sermos ignorados, livres para vender mandioca em esquinas, com diplomas dobrados no bolso. Somos tão livres que podemos escolher entre a fome crua e a desnutrição cozida.
Apesar de possuirmos terras férteis para agricultura, ainda assim colhemos insegurança alimentar. Os hospitais existem, mas os cuidados de saúde muitas vezes dependem da sorte de quem tem uma nota para passar em frente da fila, e no final receber uma receita prescrita sem nem sequer ter uma observação e diagnóstico, porque tudo se resolve na base do paracetamol. A segurança pública tem fardas, mas é o medo que patrulha e dita as regras.
O que dizer sobre as riquezas da nossa terra? Ah, estão melhor que muito dos moçambicanos, pois ao menos essas riquezas têm oportunidade de viajar de primeira classe para fora, beneficiando interesses externos. Aqui ficam apenas os buracos dos minerais extraídos, o pó e as promessas de uma vida melhor. As empresas estrangeiras instalam-se como se estivessem na casa da mãe Joana: apropriando-se dos lucros e ocupando os postos de decisão, enquanto os moçambicanos acabam excluídos dos cargos de liderança e assumem tarefas de menor prestígio, afinal alguém tem de cavar, carregar, limpar, obedecer… e desprovidos de voz, sorrir, claro. Ainda assim, ouvem-se vozes afirmando que “o país está a melhorar” sem, no entanto, esclarecer quem, de facto, está melhorando e a beneficiar desse progresso. Bem que no fundo todos nós sabemos…!
Do jeito que as coisas estão de pernas para o ar, sinto que o colonialismo apenas se transformou e não foi embora como esperava. Parece-me que apenas trocou de roupa. Agora veste fatos e gravatas, senta em mesas de conferências para deliberar decisões que nunca incluem de forma significativa os principais interessados: o povo moçambicano. Mas enfim, temos liberdade! para expressar opiniões ainda que, em certos contextos, isso possa trazer consequências graves. E porque a famosa liberdade de expressão tem suas próprias bocas… onde quem ousar falar diferente corre sérios riscos, termino por aqui celebrando o meio século de “liberdade” que mais parece uma piada contada.
Espero acordar nos próximos 50 anos, e que de facto, até lá a liberdade seja nossa.