Início Economia Investimento Directo Estrangeiro Cai Globalmente e Fragiliza Agenda 2030: Países em Desenvolvimento...

Investimento Directo Estrangeiro Cai Globalmente e Fragiliza Agenda 2030: Países em Desenvolvimento Entre os Mais Afectados

0

Questões-Chave

O investimento directo estrangeiro (IDE) mundial desceu 2% em 2023 para 1,3 biliões de dólares, numa conjuntura marcada por tensões geopolíticas, fragmentação económica e condições financeiras apertadas. Contudo, a queda real é significativamente maior – superior a 10% – quando se excluem os fluxos atípicos registados em algumas economias de trânsito na Europa, alerta o World Investment Report 2024 da UNCTAD. O recuo compromete o financiamento de sectores-chave para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), exigindo acção política urgente.

Queda Generalizada, Cenário Desigual

Embora a descida global de 2% pareça moderada, o relatório revela que a real contração é mais profunda, reflectindo uma desaceleração prolongada iniciada em 2022. O investimento internacional em projectos novos caiu 26%, atingindo fortemente os países em desenvolvimento, cujos fluxos de IDE diminuíram 7%, fixando-se em 867 mil milhões de dólares.

A região asiática foi a mais penalizada (-8%), com quedas relevantes na China, Índia e Ásia Central. Em África, os fluxos caíram 3%, enquanto na América Latina e Caraíbas a redução foi marginal (-1%).

ODS em Risco: Financiamento em Níveis Inferiores a 2015

O relatório lança um alerta grave: o investimento internacional em sectores alinhados aos ODS – como agro-alimentar, água, saneamento, saúde e educação – registou uma redução superior a 10% em 2023, com volumes inferiores aos verificados no ano de adopção dos ODS, em 2015.

“Estamos perante um retrocesso estrutural que ameaça o alcance da Agenda 2030”, advertiu Rebeca Grynspan, Secretária-Geral da UNCTAD. “O investimento não é apenas fluxo de capital; é alavanca de desenvolvimento humano e justiça intergeracional.”

Fragmentação Geoeconómica e Cautela Empresarial

A crescente fragmentação geopolítica e comercial – com cadeias de valor reconfiguradas, divergência regulatória e políticas industriais proteccionistas – tem levado multinacionais a adoptar estratégias cautelosas e mais localizadas, beneficiando algumas regiões (como Sudeste Asiático e América Central) e marginalizando outras, como muitos países africanos e pequenos Estados insulares.

Infra-estruturas e Financiamento Sustentável em Queda

O financiamento de infra-estruturas – essencial para serviços públicos e transição energética – caiu 26% em número de negócios e 50% em valor, penalizando sobretudo os países mais pobres, dependentes de financiamento concessionado e project finance internacional.

Por outro lado, os títulos sustentáveis cresceram apenas 3%, enquanto os fundos sustentáveis registaram uma queda de 60% nos novos fluxos, reflectindo preocupações com greenwashing e regulamentação pouco clara.

Digitalização: Solução Emergente Ainda Insuficiente

O relatório destaca a digitalização da administração pública como um caminho promissor, com um aumento significativo dos portais únicos de investimento e janelas únicas online em países em desenvolvimento desde 2016. Estes mecanismos facilitam o investimento, reduzem a burocracia e aumentam a transparência, mas ainda estão longe de compensar o colapso dos fluxos financeiros tradicionais.

A qualidade destes instrumentos melhorou — em alguns países menos desenvolvidos, alcançando níveis comparáveis aos de economias avançadas — sobretudo quando apoiados por assistência técnica internacional.

Hora de Actuar Com Urgência e Inovação

O relatório da UNCTAD é claro: não basta liberalizar politicamente o investimento, é necessário remover obstáculos práticos, garantir transparência e fomentar digitalização com impacto concreto.

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, apelou à priorização do estímulo global ao financiamento dos ODS, incluindo a reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento para atrair capital privado de forma eficaz.

Num contexto de incerteza global, a acção coordenada e orientada para resultados nos países em desenvolvimento é mais crucial do que nunca.

Fonte: O Económico

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!

Exit mobile version