Por: Gelva Aníbal
É impossível circular pelas principais avenidas de Maputo sem se deparar com crianças a pedir moedas nos semáforos, nas portas dos supermercados e até nas zonas residenciais.
São crianças marcadas por uma vida adulta precoce, provavelmente em busca de chamar atenção das autoridades e da sociedade.
A mendicidade infantil deixou de ser um fenómeno isolado para se tornar parte do quotidiano urbano. O mais preocupante é a normalização deste cenário, já não causa espanto ver crianças descalças a correr entre carros, em risco constante de atropelamento, ou com bebés às costas, numa infância interrompida pela necessidade de sobreviver.
É verdade que Moçambique enfrenta graves desafios sociais: pobreza, desemprego, exclusão escolar e fragilidade nos serviços de proteção à criança. Mas esses problemas não devem se traduzir na negação da infância, pois a cada batida no vidro, é um pedido de uma chance de viver dignamente.
As autoridades locais e nacionais não podem continuar a tratar a mendicidade infantil apenas como um problema de “ordem pública”, é uma questão de direitos humanos.
É urgente reforçar os mecanismos de proteção social e responsabilizar os adultos que, muitas vezes, exploram estas crianças para benefício próprio.
A sociedade também tem a sua parte, não basta dar uma moeda e seguir viagem, é preciso cobrar soluções concretas, apoiar organizações que trabalham com crianças em situação de vulnerabilidade e, sobretudo, não cair na indiferença.
Maputo é uma cidade que sonha com modernidade, mas nenhuma modernidade é possível enquanto as suas ruas continuarem a ser palco da infância perdida.
Uma nação que deixa as suas crianças pedirem esmola nas esquinas é uma nação que pede desculpas ao futuro antes mesmo de o construir.