O crescimento da participação de instituições não bancárias e o uso intensivo de derivados aumentam a liquidez e diversificação do mercado, mas também ampliam as interligações e os riscos sistémicos, com impacto mais severo nos países emergentes.
O Fundo Monetário Internacional alerta que o mercado cambial global, embora mais líquido e diversificado, tornou-se simultaneamente mais complexo e vulnerável a episódios de stress, podendo amplificar choques financeiros e afectar a estabilidade macroeconómica — sobretudo nas economias emergentes.
De acordo com o Capítulo 2 do Relatório de Estabilidade Financeira Global (Outubro 2025), intitulado “Risk and Resilience in the Global Foreign Exchange Market”, o crescimento da participação de instituições financeiras não bancárias, aliado ao uso intensivo de instrumentos derivados para cobertura e financiamento, tem aumentado a liquidez do mercado cambial mundial, mas também intensificado as interconexões e os riscos de contágio.
O FMI destaca que, durante períodos de incerteza macro-financeira, a procura por segurança conduz frequentemente a movimentos de “flight-to-quality”, elevando os custos de financiamento em moeda estrangeira, alargando as margens de compra e venda (bid-ask spreads) e acentuando a volatilidade das taxas de câmbio, sobretudo nos países em desenvolvimento.
Estes efeitos são agravados por vulnerabilidades estruturais, como maiores desequilíbrios cambiais nos balanços das instituições financeiras, dependência de um número restrito de operadores e elevada participação de fundos e entidades não bancárias, cuja reacção rápida e simultânea pode amplificar episódios de stress.
“O mercado cambial tornou-se o epicentro potencial de transmissão de choques financeiros, com implicações transversais sobre o custo do crédito, as valorizações de activos e a liquidez global”, observa o relatório.
O FMI sublinha que as perturbações no mercado cambial podem transmitir-se rapidamente a outros segmentos financeiros, afectando prémios de risco de acções e obrigações, e limitando a capacidade de intermediação das instituições financeiras, num efeito de aperto das condições de liquidez global.
Além das vulnerabilidades financeiras, o relatório alerta para riscos operacionais, incluindo ciberataques e falhas na liquidação de transacções — designadas settlement risks —, em que uma das partes pode entregar a moeda sem receber a contrapartida. Estes riscos são particularmente elevados nos países emergentes e em desenvolvimento, muitos dos quais estão fora dos mecanismos internacionais de mitigação, como o sistema Payment-versus-Payment (PvP), que assegura a liquidação simultânea das transacções cambiais.
Para reforçar a resiliência e prevenir riscos sistémicos, o FMI recomenda um conjunto de medidas estruturais:
Nos mercados emergentes, onde as economias enfrentam défices externos, dependência de financiamento em moeda estrangeira e fragilidades fiscais, as repercussões de uma crise cambial global podem ser mais severas. No caso de países como Moçambique, onde a volatilidade do metical e a exposição a choques externos permanecem elevadas, o fortalecimento das reservas, da regulação prudencial e da resiliência bancária tornam-se elementos cruciais para amortecer potenciais contágios.
<
p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>O FMI conclui que, embora o mercado cambial global continue a ser um pilar central da liquidez financeira internacional, a sua crescente complexidade requer uma nova geração de políticas de vigilância e gestão de riscos, adaptadas à interligação cada vez mais profunda entre instituições, activos e fronteiras.
Fonte: O Económico