Resumo
Os metais raros, elementos essenciais para a transição energética e tecnologia moderna, são alvo de uma disputa estratégica entre potências globais. Apesar de designados "raros", estes 17 elementos químicos são mais abundantes que o chumbo, mas a sua escassez deve-se à dificuldade de extração e refinamento. Cruciais para a indústria moderna, são utilizados em tecnologias de alto valor, como veículos elétricos e defesa. A China domina a produção global, conferindo-lhe poder estratégico, o que levou outros países a procurar independência tecnológica. A dependência destes metais motivou projetos de diversificação, mas recriar uma cadeia de valor fora da China será desafiante. Os metais raros tornaram-se uma ferramenta de negociação geopolítica, como evidenciado pelo acordo entre Donald Trump e Xi Jinping.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Essenciais para a transição energética e a tecnologia moderna, os metais raros estão no centro de uma disputa estratégica entre potências globais
O Que São e Por Que São Tão Importantes
Os chamados metais raros, ou elementos de terras raras (REE – Rare Earth Elements), são um grupo de 17 elementos químicos: quinze pertencentes à série dos lantanídeos, mais o ítrio e o escândio.
Embora sejam designados “raros”, muitos destes elementos são mais abundantes que o chumbo; o que os torna escassos é a dificuldade em encontrá-los em depósitos concentrados e economicamente exploráveis. Estão normalmente misturados com outros minerais, o que torna a sua extração e refinamento complexos, caros e ambientalmente delicados.
Onde São Utilizados
Estes metais são indispensáveis à indústria moderna. Encontram-se em quantidades minúsculas, mas em componentes críticos de tecnologias de alto valor:
Sem eles, as cadeias de abastecimento da economia digital e da defesa moderna paralisariam rapidamente. O impacto foi visível em 2024, quando várias montadoras tiveram de suspender a produção de veículos eléctricos devido às restrições chinesas à exportação de certos metais raros.
A Dominância da China
Embora o processo de separação e refinação destes elementos tenha sido desenvolvido por cientistas norte-americanos nos anos 1950, foi a China que, desde a década de 1980, consolidou o domínio global da indústria.
A razão: custos mais baixos, regulamentação ambiental permissiva e forte apoio estatal.
Actualmente, a China é responsável por cerca de 60% da produção mineira global e 90% ou mais da refinação e fabrico de ímanes de terras raras.
É esta concentração que confere a Pequim um poder estratégico considerável sobre as cadeias produtivas globais — especialmente nas áreas de tecnologia verde, defesa e energia.
Porque São Estratégicos
Os metais raros são considerados recursos críticos não apenas pela sua aplicação industrial, mas pelo seu impacto em segurança nacional, autonomia tecnológica e transição energética.
A transição para veículos eléctricos, a expansão das energias renováveis e a digitalização da economia mundial aumentam exponencialmente a procura destes elementos.
Sem acesso estável a terras raras, nenhum país consegue competir em sectores como inteligência artificial, mobilidade eléctrica, energia limpa, telecomunicações e defesa.
Corrida Global Por Independência Tecnológica
A dependência da China motivou projectos de diversificação em várias regiões:
Contudo, recriar uma cadeia de valor completa fora da China levará anos e exigirá grandes investimentos em tecnologia, infra-estruturas e sustentabilidade ambiental.
O Peso Geopolítico e o Caso Sino-Americano
Os metais raros tornaram-se ferramenta de negociação geopolítica.
O recente acordo entre Donald Trump e Xi Jinping, assinado em Busan, ilustra essa interdependência:
os Estados Unidos reduziram tarifas sobre produtos chineses em troca de garantias de fornecimento contínuo de metais raros — uma clara demonstração de que a economia verde e a segurança energética estão profundamente entrelaçadas.
Enquanto os EUA tentam reconstruir a sua capacidade produtiva interna, a China utiliza o controlo da cadeia dos REE como instrumento de influência estratégica, equilibrando poder económico e político no tabuleiro global.
Desafios Ambientais e Sustentabilidade
A extração e o processamento de terras raras geram impactos ambientais significativos, devido ao uso de produtos químicos e à geração de resíduos radioactivos.
O desafio actual é aumentar a produção e ao mesmo tempo reduzir a pegada ecológica, através de:
Implicações Para África e Moçambique
Embora Moçambique ainda não figure entre os grandes produtores, a crescente valorização dos metais raros abre oportunidades significativas.
O país pode posicionar-se como destino de investimento para exploração, processamento e fabrico de componentes, integrando-se nas cadeias africanas de valor energético e tecnológico.
Com políticas de industrialização e desenvolvimento de competências locais, Moçambique pode passar de mero exportador de recursos para fornecedor de produtos transformados de alto valor, reduzindo vulnerabilidades externas e aumentando o retorno económico.
Perspectiva Global
A procura global por metais raros deverá duplicar até 2035, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA).
O seu preço e disponibilidade continuarão a depender de factores como:
A disputa pelos REE é, na prática, a nova corrida do ouro tecnológico — uma batalha pelo controlo das matérias-primas que definem a economia do futuro.
Mais do que um tema industrial, os metais raros representam o coração silencioso da revolução tecnológica e energética global.
Quem controlar a sua exploração, transformação e fornecimento, controlará o ritmo da inovação, da defesa e da economia verde nas próximas décadas.
O debate em torno das terras raras, portanto, não é apenas sobre minerais, mas sobre poder, soberania e o futuro da economia mundial.
Fonte: O Económico






